Fusão entre Dasa e Amil pode trazer ganhos, mas depende de integração e estratégias

Fusão entre Dasa e Amil pode trazer ganhos, mas depende de integração e estratégias

Acordo para fusão de rede de hospitais de Dasa e Amil pode melhorar o cenário das empresas, que buscam reduzir endividamento e prejuízos.

By Published On: 05/06/2024
Fusão de rede hospitalar de Dasa e Amil pode trazer ganhos a empresas.

A notícia de que Dasa e Amil negociam uma fusão para suas redes de hospitais tem balançado o mercado. Apesar de ainda não terem divulgado detalhes da negociação, o acordo pode ser um caminho para melhorar o cenário das duas empresas, que enfrentam dificuldades financeiras e mudanças.

De um lado, a Dasa amarga uma dívida de cerca de R$ 9 bilhões e busca caminhos para reduzir os impactos de prejuízos e melhorar a receita, após um crescimento acelerado para ir além do mercado de diagnósticos. A família Bueno, principal controladora do grupo, anunciou um aporte de 1,5 bilhão de reais para trazer um respiro aos resultados da empresa.

Já a Amil teve um prejuízo operacional de R$ 2,8 bilhões em 2023, em meio à crise da saúde suplementar. Recém comprada por José Seripieri Filho, o Junior, busca formas de melhorar os resultados. Com mais de 3 milhões de beneficiários, tem na carteira de planos individuais a sua principal preocupação, junto com uma melhor operação de sua rede própria.

Caso a fusão se concretize, uma nova rede de 45 hospitais, distribuídos em 12 bandeiras, pode nascer e concorrer de forma mais direta com outros grupos hospitalares do país, podendo trazer resultados mais interessantes para Dasa e Amil. Especialistas ouvidos por Futuro da Saúde apontam que é cedo para se ter uma conclusão sobre esse negócio, dependendo de características firmadas no acordo final.

No entanto, existe a expectativa de que pode ser positivo, caso haja uma boa integração, trazendo sinergia para ambas. A Amil conseguiria construir produtos com rede mais enxuta, focada em seus hospitais próprios, enquanto a Dasa poderia aumentar o poder de negociação com operadoras e fornecedores, além de otimizar custos.

“O recado que passa para o mercado é que todos estão se movimentando buscando o seu lugar dentro do setor. Já esperávamos uma retomada da competição da Amil, que era um grande player no passado e nos últimos anos foi apagado. Isso vale também para a Dasa, que era um grande concorrente do Grupo Fleury anos atrás. Devemos ver a retomada dessa briga”, avalia Guilherme Vianna, analista do setor de Saúde da Genial Investimentos.

Amil: saída dos americanos e transformação

“Juntar hospitais, com culturas diferentes, é uma transação muito complexa, com potencial de concentração que tem que passar pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Fazer a junção de operações dessa complexidade adiciona muito risco às duas teses. São bons ativos, hospitais de boa reputação, alto número de leitos e marketshare relevante. Por outro lado, esse tipo de transação só pode ocorrer nessa situação, quando os dois lados estão fragilizados”, explica Harold Takahashi, sócio da Fortezza Partners e que atuou com fusões e aquisições no Grupo Fleury por 8 anos.

O período pós-pandemia de Covid-19 tem sido desafiador para o setor da saúde, que com alta sinistralidade, aumento de custos e outros desafios, tem sido impactado e acumulado prejuízos. Apesar de um melhor cenário em 2023 quando comparado ao ano anterior, com uma redução do prejuízo operacional para R$ 5,9 bi, operadoras lutam para reduzir custos, o que tem afetado diretamente os hospitais.

Contudo, Amil e Dasa já enfrentavam dificuldades anteriores e que foram agravadas. Comprada em 2012 pela UnitedHealth Group, um dos principais grupos de saúde do mundo, a operadora acumula prejuízos ao longo dos anos. Os controladores americanos, insatisfeitos com os resultados da empresa no Brasil e com dificuldades de torná-la mais eficiente, a venderam em 2023, após diversas tentativas de repassar o negócio, o que inclui a Rede Americas de hospitais.

“A UHG tinha uma cultura que trazia algumas travas operacionais maiores. O padrão implica em trabalhar com certos fornecedores homologados que acabam sendo mais caros que outros do mercado. O custo operacional era maior quando comparado a outros players do mercado brasileiro pelas restrições que tinha de compliance e qualidade colocadas de fora. A estrutura da UHG entre Amil, Américas e o corporativo tinha duplicidades ou triplicidades, e isso ficou claro com o desligamento massivo a partir da nova gestão”, explica Marcelo Compte, diretor executivo de Healthcare da consultoria Alvarez & Marsal.

A operadora foi comprada por Junior, fundador da Qualicorp e da QSaúde, em dezembro de 2023 por R$ 11 bilhões, que agora trabalha para transformar o negócio. Com nova diretoria, busca encontrar caminhos para colocar a Amil no caminho certo e tornar o negócio rentável novamente. Até o momento, uma das poucas ações que vieram a público foi o cancelamento de planos de saúde coletivos.

De acordo com Guilherme Vianna, da Genial Investimentos, fontes do mercado indicam que a operadora tem focado em construir e vender produtos que incluam rede própria, reduzindo a rede credenciada externa. “Com essa perspectiva, esses hospitais da fusão Dasa e Amil poderiam atender cada vez mais produtos da operadora com rede própria”, explica ele.

Ritmo acelerado e dívidas na Dasa

Já a Dasa atuou nos últimos anos para ir além da área de diagnósticos, com uma estratégia de atender saúde integral. Controlada pela família Bueno, fundadora da Amil, adquiriu diferentes negócios, tendo destaque o Grupo Leforte em 2020, considerado o maior grupo independente de São Paulo e dono dos hospitais Leforte Morumbi, Leforte Liberdade e Hospital e Maternidade Christovão da Gama.

No entanto, de acordo com os analistas, o ritmo acelerado de aquisições, erros estratégicos de gestão e o impacto da pandemia de Covid-19 provocaram um endividamento. A empresa passa por transformações para tentar se reerguer e reduzir as alavancagens. “Se não fosse uma empresa da família Bueno, que tem muitos recursos, poderia ter pedido recuperação judicial ou ter sido vendida para outro grupo”, afirma Harold Takahashi, da Fortezza Partners.

Recentemente a empresa passou por troca de CEO, CFO e diretor de operações. Pedro Bueno, da família controladora do grupo, deixou a posição de diretor-presidente e passará para o conselho de administração da Dasa, marcando uma nova era para a companhia. Por isso, uma possível fusão é vista como bons olhos pelo mercado, para resolver questões de endividamento.

“O rombo é tão grande na Dasa que o aporte de 1,5 bilhão de reais só dá um fôlego de 0,7 vezes na dívida líquida Ebitda. A principal vantagem para a Dasa com a fusão seria resolver a questão de endividamento de um modo que não seria um gasto de capital tão grande para a família Bueno e seus acionistas minoritários”, explica Guilherme Vianna, da Genial Investimentos.

Frente a uma consolidação de outros grupos que envolvem diferentes elos, como Hapvida e GNDI, Rede D’Or e SulAmérica, Fleury e Pardini, a possibilidade da fusão entre Amil e Dasa, mesmo que no âmbito das redes hospitalares, não surpreende quem acompanha o setor.

“Toda consolidação do mercado de saúde é boa para quem está consolidando, particularmente neste momento do setor no Brasil. Para Dasa e Amil é um movimento positivo, ambos têm sinergias operacionais que estão capturando com esse negócio, além de ser um jeito de se defender pelo lado da SulAmérica e Bradesco, se isso caminhar para uma parceria mais sólida e permanente, como está se esperando”, avalia Marcelo Compte, da Alvarez & Marsal.

Potencial e riscos da fusão entre Dasa e Amil

Com uma escassez no mercado de ativos de menor porte, é esperado que consolidações do tipo passem a envolver grandes grupos, sejam em fusões ou construções de novos negócios, como joint ventures. Por isso, um acordo entre Dasa e Amil pode ser um caminho para ambas ganharem força e se recuperarem.

“Rede D’Or e SulAmérica foi uma transação com alguma similaridade. Já tinha um ‘namoro’ anterior, com negociações e troca de executivos entre ambas. No final, teve essa fusão. Pode ser um início parecido entre Dasa e Amil, a diferença é que a operadora já é um grupo verticalizado, o interesse não é tão grande como era para a Rede D’Or ter uma operadora dentro dela”, observa Harold Takahashi, da Fortezza Partners.

Estima-se que juntas, Amil e Dasa cheguem a 8.500 leitos. Esse número pode ser importante para aumentar a capacidade da operadora em atender sua carteira de beneficiários, reduzindo custos com internações em outros hospitais que não tenham acordos tão próximos. 

Marcelo Compte, da Alvarez & Marsal, avalia que “a dinâmica de poder ter participação em dois elos da cadeia, característica do mercado brasileiro, também leva à concentração. Sem dúvida, é uma consolidação. É ruim aos prestadores independentes, que ficam cada vez mais isolados e com menor poder de barganha frente às fontes pagadoras”.

A fusão poderia colaborar para a Amil se tornar competitiva novamente, principalmente em um segmento do mercado com um ticket médio. Guilherme Vianna, da Genial Investimentos, explica que a Rede D’Or com SulAmérica dominam o mercado premium, enquanto Hapvida atua principalmente no segmento de ticket médio à baixo. Por isso, reposicionar a Amil na briga, em um nicho que já foi seu principal público, pode ser uma estratégia junto à fusão.

No entanto, Vianna reforça que ainda é preciso acompanhar os desdobramentos para saber qual será o acordo entre as empresas. “Ainda não sabemos o que está acontecendo nos bastidores. Não sabemos os termos de troca entre as duas companhias, qual seria a distribuição de capital entre a Amil e Dasa. Existem muitas incógnitas ainda para falarmos se vai ser uma coisa boa ou ruim para ambas e o setor de saúde”, explica.

Entre outras questões que podem impactar o sucesso da fusão, está a integração. Segundo o analista, temos exemplos no mercado da saúde positivos, como o caso do Grupo Fleury com o Pardini, em que conseguiram uma boa sinergia e integração. No entanto, exemplos como da Hapvida e GNDI mostram que pode não ser tão simples assim.

“Muitos analistas do mercado achavam que elas teriam uma integração fácil, porque as empresas estavam prontas para se fundir há anos e tinham atuações semelhantes em regiões diferentes. Seria só “plug and play”, mas não foi assim. Houve problemas nessa integração, com destruição de valor depois da fusão e até hoje”, explica Guilherme.

A avaliação é semelhante a de Harold Takahashi, que reforça que “porte e market share não são suficientes para garantir sucesso”. Ainda, o sócio da Fortezza Partners lembra que a saúde suplementar vem sofrendo pela combinação de juros altos, inflação alta e ineficiência do setor, que trouxeram impactos para todos, dos pequenos aos gigantes. “Empresas dominantes que eram benchmarking de gestão estão tendo que rever suas estratégias”, aponta.

Rafael Machado

Jornalista com foco em saúde. Formado pela FIAMFAAM, tem certificação em Storyteling e Práticas em Mídias Sociais. Antes do Futuro da Saúde, trabalhou no Portal Drauzio Varella. Email: rafael@futurodasaude.com.br

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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