Qualidade e segurança precisam ser contempladas na formação dos profissionais de saúde

Qualidade e segurança precisam ser contempladas na formação dos profissionais de saúde

A aplicação de ferramentas de qualidade e segurança no atendimento

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By Published On: 05/04/2023
Formação em qualidade e segurança Einstein

A aplicação de ferramentas de qualidade e segurança no atendimento à saúde é um exemplo de como as instituições estão atuando cada vez mais com foco no paciente e na transparência de suas atividades – o que leva à confiabilidade, menos falhas e melhores desfechos. Há diversas estratégias para esse aprimoramento contínuo, mas como a medicina é ainda uma atividade muito ligada à ação humana, é preciso investir na formação e capacitação dos profissionais.

Em 2011, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu um guia curricular multiprofissional focado em segurança do paciente para auxiliar instituições de ensino a criar um currículo que levasse ao mercado profissionais mais preparados. A atenção com o tema se justifica: segundo dados de 2019 da entidade, os cuidados de saúde não seguros resultam em 2,6 milhões de mortes por ano em países de baixa e média renda, sendo que a maior parte desses óbitos poderiam ser evitados. Esse é um dos elementos que faz com que segurança, qualidade e mitigação de erros sempre figurem entre os desafios globais que a OMS estabelece de tempos em tempos.

Outra instituição internacional, o Institute for Healthcare Improvement (IHI), referência em qualidade e segurança no mundo, também está atenta ao assunto. A organização, inclusive, já aponta indicadores: uma instituição com até 4 mil colaboradores deveria contar com pelo menos 15 profissionais especialistas em projetos de melhorias.

Para ajudar na formação desses profissionais, o IHI atua em diversas frentes. Uma é a por meio de uma plataforma chamada Open School, que oferece conteúdo online e gratuito – alguns traduzidos para outros idiomas, como o português – que estimulam os profissionais a ter uma formação diferenciada nesse aspecto. Outra é um programa de fellowship focado em qualidade e segurança, que hoje é o nível máximo de especialização no tema.

E uma terceira frente é um curso de especialista em Modelo de Melhoria, desenvolvido pelo IHI, que visa capacitar especialistas para lidar com o tema da qualidade e segurança dentro das organizações, pensando em projetos e aplicando soluções de forma constante.

Formação em qualidade e segurança no Brasil

O Einstein está engajado em formar os seus especialistas – já são 65 –, e trouxe para o Brasil o programa de formação do IHI, que está em seu oitavo ciclo. “Já foram capacitados 250 especialistas no Brasil. Mas é preciso muito mais, se considerarmos as proporções continentais do país”, avalia Fernanda Paulino Fernandes, gerente de Qualidade e Segurança do Paciente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Trata-se de um tipo de capacitação complexa, mas com retorno expressivo. “É preciso considerar todos os retornos dos processos implementados a partir dele. Nós mensuramos os impactos e em um ano chegamos a resultados que indicam um retorno de mais de 230% do valor investido, considerando a mitigação de erros, que tornaram possível evitar condições adversas e preservaram a vida de mais de 300 pacientes”.

Uma das metas do Einstein é que os profissionais formados e especializados em qualidade e segurança tenham a função não só de pensar projetos de melhoria dentro da organização, mas também disseminar os conteúdos vivenciados e as boas práticas da qualidade e segurança para que cheguem a cada vez mais espaços dentro das instituições espalhadas pelo país.

“O Einstein tem a capacitação em forma de pirâmide: antes mesmo de ingressar no sistema, a parte de ensino já adota um currículo que traz todas essas competências. Quando o profissional entra na organização, ele conta com diferentes treinamentos e, na minha área, que analisa os eventos adversos, nós identificamos diversas oportunidades de capacitação e treinamento. Entendemos que o investimento no profissional de saúde é necessário para dar conta de um sistema que não contempla tudo o que é preciso na maioria das escolas formadoras e é preciso estar sempre aprendendo. É uma formação contínua”, avalia Fernanda.

Inspiração na aviação

A instituição também oferece tríades específicas de conhecimento, que já formaram mais de 350 profissionais, e treinamentos que contam com simulações realistas, possibilitadas pelo sistema Health Crew Resource Management (HCRM), que simula situações reais que requerem habilidades técnicas e não-técnicas para serem resolvidas.

O HCRM é derivado da aviação (CRM), um setor que também precisa ser altamente confiável por lidar com vidas diariamente e que conseguiu chegar a um índice de acidentes com morte muito baixo, se tornando um modelo a ser seguido, como ressalta Fernanda.

“A aviação hoje é o transporte mais seguro do mundo. A mesma coisa acontece na indústria. É um cenário que se modificou. Mas quando fazemos a analogia com essas instituições, precisamos lembrar que a grande diferença desses setores para a saúde é o nível de tecnologia que pode ser empregado. Tanto a aviação quanto a indústria chegaram a um nível bastante alto de automação de sistemas e processos e, na saúde, o cuidado ainda é – e seguirá sendo, pelo menos por algum tempo – extremamente humano-dependente”.

Ela lembra que a segurança do paciente passou a ser foco de atenção das organizações em 1999, quando foi publicado o documento Errar é Humano, do Institute of Medicine, que tinha como objetivo quebrar o ciclo da passividade em relação aos eventos adversos realizados pelos profissionais de saúde: “Essa publicação trouxe insegurança às instituições, porque as estatísticas apontavam que os eventos adversos na época causavam mais mortes do que patologias graves, como o câncer, causando muita comoção”.

Fernanda também cita um estudioso do erro humano, James Reason, que é o autor da Teoria do Queijo Suíço – uma forma de explicar como as falhas acontecem em sistemas complexos. Ele compara os acidentes como se fossem um grande pedaço de queijo separado em fatias: cada fatia representa uma barreira a erros, que pode ser a infraestrutura, sistemas, tecnologias e recursos, e os buracos encontrados no queijo são as falhas dentro desses processos e falhas humanas.

“Quando um buraco se liga ao outro, as falhas passam pelas barreiras e o acidente acontece, justamente porque há fragilidade nos processos, além da fragilidade humana. É preciso lembrar que o profissional pode ser uma vítima desse sistema. Os processos precisam ser robustos para garantir que o correto seja feito. Mas os profissionais também precisam ter acesso a conhecimento e ferramentas para que a sua parte seja feita com o mínimo de falhas possível”, diz Fernanda. “Não é à toa que adotamos uma série de estratégias para fortalecer o fator humano, porque ele é o nosso bem maior. Não tem instituição boa sem bons profissionais”.

Ana Carolina Pereira

Jornalista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ao longo de sua carreira, passou por veículos como TV Globo, Editora Globo, Exame, Veja, Veja Saúde e Superinteressante. Email: ana@futurodasaude.com.br.

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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