“Fadiga do Zoom” atinge mais as mulheres, segundo estudo
“Fadiga do Zoom” atinge mais as mulheres, segundo estudo
A pandemia tornou o uso de plataformas de chamada de
A pandemia tornou o uso de plataformas de chamada de vídeo extremamente frequente, o que fez surgir o termo “fadiga do zoom”, usado para descrever a exaustão após passar muitas horas em chamadas de vídeo.
Analisando esse fenômeno mais a fundo, um novo estudo observou que as mulheres são mais afetadas pela exposição prolongada às reuniões virtuais do que os homens. A constatação foi publicada em artigo pré-print, ou seja, sem revisão por pares, no repositório Social Science Research Network (SSRN), e teve autoria dos cientistas da Universidade de Gothenburg, na Suécia e da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
De acordo com os pesquisadores, o motivo das mulheres sofrerem mais com esta exaustão do que os homens poderia estar relacionado a um comportamento chamado “ansiedade do espelho”, uma forma de vigilância devido o constante olhar para si mesmo que causa tensão mental. Isso porque, segundo outro estudo, as mulheres tendem a concentrarem-se mais na imagem de si mesmas do que os homens. A preocupação constante sobre como as pessoas as veem também está associada à transtornos de ansiedade e depressão.
Segundo o estudo, há também o fato de que as mulheres normalmente fazem menos pausas e suas reuniões são mais longas, fazendo com que sintam-se presas devido a constante exposição através da câmera, que exige delas aparentar estar centrada. Além de prejudicar a autoestima, há ainda o estresse cognitivo causado pela falta de outros sinais não-verbais que normalmente são utilizados na comunicação cotidiana.
Entre os mecanismos não-verbais que aparecem nas reuniões a distância, teorias recentes citam: ansiedade de espelho; sensação de estar presa; excesso de olhares, devido o contato visual direto uns com os outros, e que ocorre independente de quem estiver falando; aumento da carga cognitiva para interpretar todos os gestos e disponibilidade desses sinais para melhorar a socialização.
Basicamente, com a redução desses mecanismos, a comunicação se torna menos espontânea e natural. Isso acontece porque a interação por vídeo exige mais esforço e atenção, o que pode causar também gestos excessivos, como acenar com a cabeça muitas vezes. Logo, a comunicação por telefone talvez seja menos confusa e exaustiva.
Estudo
As conclusões deste estudo são fruto de uma análise com 10.591 pessoas de 18 a 85 anos, que demonstrou que 1 a cada 7 (ou 13,8%) mulheres relatam sentir muito ou extremo cansaço após reuniões através de plataformas como o Zoom. Por outro lado, a fadiga parece atingir somente 1 de 20 ou 5,5% dos homens.
Para coletar e analisar esses dados, os cientistas realizaram uma pesquisa digital chamada Zoom e Fadiga de Exaustão (ZEF), que foi desenvolvida para analisar como os participantes se sentem com o tempo prolongado em reuniões por vídeo.
Para checar se as mulheres são mesmo mais autocentradas, os cientistas associaram o uso de marcadores linguísticos como “eu” e “meu”. Logo, observaram que os pronomes singulares são usados com mais frequência pelas mulheres.
Fator social
O fator social também foi levado em consideração, pois segundo o Global Gender Gap Report 2021, a pandemia impactou mais as mulheres do que os homens, pois as dificuldades que as mulheres já viviam foram intensificadas na pandemia. Entre os aspectos negativos que foram agravados, podemos citar a situação financeira, a responsabilidade com os filhos, dificuldade para se exercitar e ter uma alimentação regular, além da ansiedade causada pela imagem do próprio corpo. Todos esses elementos combinados com as tarefas profissionais têm afetado a produtividade e saúde mental de muitas mulheres.
Além disso, os pesquisadores identificaram que a etnia ou raça, idade e personalidade também são fatores que influenciam o quão exausta uma pessoa se sentirá por causa das videoconferências. Altos níveis de fadiga foram observados em pessoas mais jovens, introvertidas, ansiosas, não-brancas e em contextos profissionais.
Entretanto, para descobrir o que causa o desconforto nestes grupos será necessário um estudo com um grupo maior de pessoas. Mesmo assim, os cientistas estão confiantes quanto a diferença da fadiga do Zoom entre gêneros.
Uma proposta para minimizar o impacto
Como forma de solucionar ou minimizar o problema, os cientistas sugerem que as empresas criem orientações para a realização de reuniões a distância. Evitar reuniões todos os dias ou não exigir a câmera ligada sempre, utilizando somente o áudio quando possível, e estipular um tempo máximo de duração das conferências são medidas que podem ajudar a preservar a saúde mental dos funcionários.
“À medida que o mundo faz a transição para a era pós-pandemia, na qual o futuro do trabalho provavelmente será híbrido, será importante maximizar os benefícios da videoconferência e, ao mesmo tempo, reduzir os custos psicológicos, especialmente considerando que esses custos nascem de forma desigual entre sociedade” explicam os cientistas no artigo.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.