Inteligência artificial pode ajudar nas decisões clínicas, mas médicos acreditam que a tecnologia ainda não está pronta, aponta estudo
Inteligência artificial pode ajudar nas decisões clínicas, mas médicos acreditam que a tecnologia ainda não está pronta, aponta estudo
Treinamento para uso de novas tecnologias e melhores condições de trabalho também foram citados como fatores indispensáveis para o futuro da saúde
O futuro da saúde passa pela implementação de soluções digitais, mas ainda há diversas barreiras a serem superadas, que passam por infraestrutura, processos e mesmo a atenção com o bem-estar dos profissionais de saúde. É o que aponta o estudo inédito Reimagining Better Health, que ouviu pacientes e médicos de oito países – incluindo o Brasil – sobre o futuro da saúde, uso de dados, inteligência artificial e das condições de trabalho de quem atua no setor.
O levantamento, encomendado pela GE Healthcare, ouviu 2.000 médicos e 5.500 pacientes e representantes dos pacientes, além de entrevistas qualitativas com 24 especialistas dos países participantes, e apontou seis grandes tendências: cuidado será cada vez mais preventivo e personalizado, maior colaboração entre pacientes e profissionais de saúde, adoção de tecnologia, gerenciamento de dados, bem-estar dos profissionais de saúde e descentralização do cuidado.
Por outro lado, o estudo também elencou nove barreiras divididas em três eixos. No eixo de profissionais de saúde, a satisfação com as condições de trabalho, a falta de espaço para aplicar o conhecimento e a falta de treinamento em comunicação e tecnologia foram elencadas. Já no eixo de processos, a hesitação dos pacientes em compartilhar dados de saúde, o fato de os pacientes não se sentirem à vontade no cuidado fora de uma clínica ou ambiente de saúde e a baixa confiança dos profissionais nos resultados de exames autoadministrados estão entre os principais. Por último, no eixo de tecnologia, a baixa confiança na inteligência artificial para uso médico, falta de acesso a dados no tempo certo e o fato de a tecnologia não ser intuitiva foram os três mencionados.
Ao serem perguntados sobre as principais habilidades que os profissionais do futuro deveriam se preparar, os médicos brasileiros seguiram a média global, com 30% destacando a necessidade de aprimorar o conhecimento de tecnologia. Contudo, dois resultados destoaram em resultados opostos: para 26% dos profissionais do Brasil, será preciso treinar o cuidado virtual por telemedicina (a média global neste quesito foi de 17%), enquanto para apenas 19% as soft skills precisam ser desenvolvidas (o número global foi de 28%).
Tendências para o futuro da saúde e inteligência artificial
Dentre as tendências, a relação médico-paciente ganha contornos mais horizontais, onde o profissional de saúde não detém todo o conhecimento, mas atua como um mentor na jornada de autocuidado do indivíduo. A ideia de pacientes e time de cuidados atuando em parceria surgiu como uma das principais tendências identificadas pelo estudo: 99% dos profissionais manifestam o desejo de atuar de maneira mais próxima dos pacientes e familiares dos pacientes. Contudo, 42% sentem que os profissionais que participam do cuidado não colaboram o suficiente para fornecer um atendimento eficiente.
Neste contexto, o uso de tecnologias, como a inteligência artificial é outra tendência apontada pelo estudo: na média global, 60% dos profissionais indicaram que é muito importante utilizar ferramentas tecnológicas avançadas para ganhar eficiência em tarefas básicas. Especificamente para IA, 61% dos médicos acreditam que a tecnologia pode ajudar nas decisões clínicas. Neste quesito, os profissionais brasileiros apontaram resultado ainda maior, de 71% – além disso, 68% acreditam que a IA pode ajudar a reduzir as disparidades de cuidados e 66% entendem que ela permite intervenções de saúde mais rápidas. Por outro lado, o estudo apontou que 55% dos médicos acreditam que a inteligência artificial não está pronta ainda para uso médico.
Para 64% dos pacientes do Brasil, as soluções de tecnologia estão ajudando a tornar o tratamento mais conveniente. 60% também acreditam que os médicos usam ativamente dados de saúde e evidências para fornecer o cuidado certo e 58% acham que os médicos têm acesso à tecnologia certa, que os ajuda a tratar e melhorar a saúde do paciente.
Dados em saúde
O uso de dados em saúde e a integração de sistemas é outra das tendências apontadas. O dilema dos dados passa por dois pontos: a hesitação de parte dos pacientes em compartilhar dados pessoais e sensíveis e o aproveitamento de um volume de dados já coletados cada vez maior, para otimizar fluxos e processos. Atualmente, de acordo com o levantamento, cerca de 97% dos dados de saúde em hospitais não são utilizados na prática, seja por falta de tempo ou de habilidade dos profissionais de assistência para processar e explorar o potencial do grande volume de informações.
Para 64% dos profissionais de saúde entrevistados, a solução para o futuro da prática médica baseada em big data exige uma visão sistêmica e interdisciplinar, com equipes de saúde e profissionais de dados trabalhando juntos. Entretanto, o estudo mostrou que 49% dos médicos entendem que soluções não estão integradas. Além disso, 33% dos pacientes afirmam que não se sentem confiantes em compartilhar suas informações de saúde. Para os pacientes do Brasil, 73% apontam que se sentem seguros em entregar os dados para o seu médico de confiança – o resultado mais alto dentre os demais países –, enquanto apenas 35% confiariam em compartilhar os dados com o governo.
Bem-estar dos profissionais de saúde
As condições de trabalho para os profissionais de saúde foram destacadas também no levantamento: 42% dos médicos ainda apontaram que estão considerando deixar a indústria de saúde e 52% afirmam que não possuem tempo suficiente para administrar tanto os pacientes quanto suas próprias famílias.
Para reverter esse cenário, 64% deles afirmam que condições mais justas de trabalho são muito importantes para o futuro do sistema de saúde. Ainda, 45% dos médicos indicaram que não recebem treinamento adequado sobre como usar novas tecnologias em seu potencial máximo – o que também indicaria uma outra iniciativa para melhorar esse quadro. Por último, 54% afirmaram que as responsabilidades de cuidado com o paciente poderiam ser realocadas para outros profissionais de saúde.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.