Cinco anos depois, Brasil recupera certificado de eliminação do sarampo

Cinco anos depois, Brasil recupera certificado de eliminação do sarampo

Em novo artigo para Futuro da Saúde, o pediatra infectologista Renato Kfouri fala do aumento da vacinação e melhoria dos sistemas de vigilância e resposta a emergências foram fundamentais.

By Published On: 03/12/2024
eliminação do sarampo

Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil

Após perder o certificado de eliminação do sarampo em 2019, o Brasil voltou a ser considerado livre da doença. O status foi concedido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em novembro e anunciado pela Ministra da Saúde, Nísia Trindade, em cerimônia realizada na sede da entidade internacional em Brasília, com a presença do diretor da OPAS Jarbas Barbosa.

O último registro de sarampo no Brasil aconteceu em junho de 2022, no Amapá. Este ano, foram detectados quatro casos importados — no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo —, mas medidas como a busca ativa e a vacinação de bloqueio evitaram que esses casos gerassem outros secundários.

Essa conquista é resultado da retomada do investimento na vacinação e na vigilância epidemiológica. Os últimos anos têm sido marcados pela reconstrução do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Por meio de ações de microplanejamento, novas estratégias de comunicação e parcerias com sociedades científicas e a sociedade civil organizada, o Brasil conseguiu reverter o movimento de queda na vacinação e sair da lista de 20 países com mais crianças não vacinadas. Agora, podemos dizer, com orgulho, que eliminamos o sarampo novamente.

Recente informação no painel de coberturas vacinais do Ministério da Saúde aponta para, pela primeira vez na ultima década, termos atingido a meta de 95% de cobertura vacinal para o sarampo com a primeira dose, sem dúvida um fato a ser comemorado.

Importante destacar que a manutenção desse status depende de uma mobilização constante, uma vez que o vírus continua a circular em outras nações. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em todo o planeta, foram confirmados mais de 320 mil casos de sarampo em 2023.

Perder o certificado, algo que o histórico recente mostra não ser impossível, seria um retrocesso incalculável. Estamos no caminho certo, mas precisamos estar atentos e redobrar os nossos esforços, até porque o sarampo não é a única doença com a qual devemos nos preocupar. Evoluímos bastante, mas boa parte das vacinas, a exemplo da que previne a pólio, permanece com a cobertura aquém do desejado.

Uma das principais causas de mortalidade infantil no passado, o sarampo foi gradativamente controlado no Brasil graças às políticas de vacinação conduzidas ao longo de décadas, com destaque para o Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, de 1992. Em 2016, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) reconheceu o Brasil, pela primeira vez, como livre do sarampo.

Infelizmente, com a queda nas coberturas vacinais, o contato de pessoas não vacinadas com indivíduos que contraíram a doença no exterior levou à ocorrência, a partir de 2018, de surtos sustentados de grandes proporções — especialmente no Amazonas, Roraima e São Paulo. Com isso, em 2019, o Brasil perdeu o status de eliminação.

Entre 2018 e o início de junho de 2022, foram confirmados 39.799 casos e 40 mortes pela doença. Após dois anos sem registros e a melhoria nas coberturas vacinais e nos sistemas de vigilância epidemiológica e resposta a emergências, a OPAS voltou a conceder o certificado ao país.

Estamos no caminho certo, perseguindo sempre o controle e a eliminação de doenças evitáveis pela vacinação!

Renato Kfouri

Pediatra infectologista, é presidente da Câmara Técnica de Eliminação do Sarampo e da Rubéola, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

About the Author: Renato Kfouri

Pediatra infectologista, é presidente da Câmara Técnica de Eliminação do Sarampo e da Rubéola, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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