Educação para o autocuidado: um grande “remédio” para a saúde
Educação para o autocuidado: um grande “remédio” para a saúde
Nos últimos meses, temos observado consultórios e hospitais lotados de […]
Nos últimos meses, temos observado consultórios e hospitais lotados de pacientes retomando tratamentos ou buscando avaliação médica e filas de espera para a realização de exames ou check-ups. Para dar uma ideia desse cenário, vale citar alguns números do Einstein. Em relação a 2021, que já foi um ano de retomada, tivemos nestes primeiros meses de 2022 um aumento de cerca de 30% nos check-ups, 12% nas consultas com médicos especialistas, 18% nos atendimentos com médicos de saúde de família e 8% nos exames de medicina diagnóstica. Atendimentos multidisciplinares (estilo de vida, atividade física e psicologia positiva) mais que triplicaram.
O que tem provocado esse aumento da demanda? Entre outros motivos, esse é um positivo efeito colateral da pandemia. Ou pelo noticiário ou por acompanhar ocorrências com familiares e conhecidos, as pessoas viram quem eram as vítimas dos casos mais graves de Covid-19: os portadores de doenças crônicas que não estavam sendo tratadas adequadamente, os obesos e aqueles com hábitos nada saudáveis, como sedentarismo, má alimentação e tabagismo. Isso despertou na sociedade um maior interesse por questões relacionadas à saúde e chamou a atenção da população para a importância do autocuidado.
Será que esse comportamento terá a continuidade que seria desejável? Sim, se explorarmos todos os caminhos para não deixar a peteca cair, o que passa por investir na educação em saúde e na atenção primária.
Educação em saúde significa empoderar o indivíduo com conhecimentos sobre prevenção de doenças, hábitos de vida, controle de enfermidades crônicas etc. Isso pode ser feito de várias formas – de canais de comunicação e programas estruturados até conteúdos disponíveis na internet e nas mídias sociais. Estas, é verdade, estão repletas de materiais relacionados à saúde. Mas é preciso separar o que é educação em saúde de verdade e o que são fake news ou truques habilidosos com “cara” de coisa séria para vender produtos e serviços. Por exemplo: uma busca no Google com a palavra diabetes traz em poucos segundos cerca de 4 bilhões de resultados. A única forma de descobrir onde vale a pena clicar para ter informações confiáveis é checando a credibilidade e reputação da fonte.
Atenção primária e tecnologia são aliados do autocuidado
A atenção primária tem um papel-chave para alimentar esse movimento pró-cuidados com a própria saúde que temos observado. É nessa instância que podemos identificar riscos, agir para prevenir doenças, manter as crônicas sob controle, orientar sobre a mudança de hábitos – em resumo, promover a saúde considerando as características e necessidades de cada indivíduo. Quantas pessoas deixarão de ficar doentes com esses cuidados? Quantos casos de infarto, câncer, doenças renais e muito outros problemas graves serão evitados com níveis de pressão arterial ou de glicemia mantidos nos patamares adequados, com a perda do excesso de peso, com a cessação do tabagismo e tantas outras providências e orientações que o indivíduo pode receber na atenção primária?
Esse nível de cuidado entrou no radar do Einstein já antes da pandemia, com o projeto de criação das Clínicas Einstein, que levou para o público externo o bem-sucedido programa de atenção primária voltado aos mais de 18 mil colaboradores da organização e seus dependentes. As Clínicas Einstein (hoje são cinco unidades localizadas na cidade de São Paulo) oferecem um atendimento focado em promoção da saúde física e mental, prevenção de doenças e controle das crônicas. Médico e enfermeira de saúde de família fazem um plano de cuidado individualizado e de longo prazo, que pode incluir também nutricionista, educador físico e psicólogo. Além disso, há oficinas voltadas a alimentação saudável, atividade física e meditação, entre outras.
A tecnologia é outra aliada: serviços de telemedicina que cobrem um cardápio cada vez mais amplo além da assistência (cessação do tabagismo, reeducação alimentar, telepsicologia, telerreabilitação etc.); dispositivos que monitoram batimentos cardíacos, glicose, qualidade do sono, atividade física, entre muitas outras funcionalidades… Os recursos da transformação digital são trunfos a serem cada vez mais usados na atenção primária e no engajamento das pessoas para os cuidados de sua saúde.
No setor público, há muito tempo contamos com iniciativas importantes como o Programa Saúde da Família. E as tecnologias digitais oferecem um grande potencial de avanços. Nas UBSs, podemos, por exemplo, ter uma enfermeira preparada para interagir por telemedicina com os pacientes, orientando-os nos casos mais simples e evitando o deslocamento até a unidade. Recursos digitais podem ser usados para monitorar pacientes com doenças crônicas. Além de entregar cuidados de maneira eficiente e chegando a mais cidadãos, soluções digitais geram dados dos quais é possível extrair informações valiosas para dirigir os investimentos onde for mais necessário e pautar iniciativas preventivas, como vacinação, controle da natalidade e prevenção de doenças transmitidas por mosquitos, por exemplo. Além de proporcionar oportunidades de ensino e pesquisa.
Os frutos a serem colhidos com a atenção primária bem realizada incluem mais saúde e qualidade de vida para as pessoas, ampliação do acesso, redução do desperdício de recursos com as doenças que foram evitadas e que podem ser aplicados em mais saúde e qualidade de vida para todos, alimentando um ciclo virtuoso.
Esse despertar da população para a importância do autocuidado aumentou como uma onda em meio à pandemia – uma onda que não podemos deixar arrefecer. Cabe aos profissionais e players públicos e privados do setor navegar nesse mar de oportunidades, conduzindo a saúde do país a novos e promissores horizontes.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.