Tecnologia, desafios ambientais e novas competências para líderes da saúde
Tecnologia, desafios ambientais e novas competências para líderes da saúde
Em artigo para Futuro da Saúde, Nelcina Tropardi fala sobre os desafios que as novas tecnologias e mudanças climáticas geram para os líderes da saúde
O avanço exponencial das novas tecnologias e a urgência por atuações sustentáveis frente às demandas climáticas estão entre os desafios que pautam as agendas institucionais. No setor da saúde, que cumpre um papel social inerente ao negócio, esses movimentos ampliam as exigências por competências específicas dos profissionais, sobretudo, dos líderes da saúde.
Nossa sociedade tem sido descrita como frágil, ansiosa, não-linear e incompreensível. Traduzida do acrônimo BANI, esta definição demonstra a complexidade de um mundo que experimenta mudanças em maior volume e velocidade. Populações hiper conectadas, impactadas por informações que circulam velozmente, impõe aos líderes cuidados redobrados no que diz respeito a uma atuação que evidencie coerência entre discurso e prática.
Mais recentemente, o uso das Inteligências Artificiais Generativas (GenAIs) tem se consolidado como novo marco da revolução tecnológica. No setor da saúde, se por um lado a Inteligência Artificial (IA) viabiliza o diagnóstico de doenças, otimiza recursos e prioriza demandas, por outro, há a preocupação de que, dependendo do seu uso, pode trazer frieza e impessoalidade. É o que diz a Organização Mundial da Saúde (OMS) em seu recém-lançado “Guia de Ética e Governança da Inteligência Artificial na Saúde”.
A publicação destaca seis princípios éticos relacionados às GenAIs: proteção da autonomia humana, assegurando que profissionais tragam a palavra final em decisões no sistema de saúde, e não as máquinas; promoção da proteção e bem-estar das pessoas além do interesse público; garantia da transparência, explicabilidade e inteligibilidade da tecnologia para que profissionais da saúde tenham total compreensão do que estão utilizando e em quais condições a tecnologia foi desenvolvida; promoção da responsabilidade e prestação de contas da IA; garantia da inclusão e da equidade na aplicação e desenvolvimento da tecnologia; e, por fim, a promoção de uma IA responsiva e sustentável.
Liderar em meio a esse cenário exige boas doses de resiliência, muita disposição para mediar e resolver conflitos – incluindo os geracionais – e ampla escuta ativa. Aqui, cabe um olhar cauteloso sobre a habilidade de ouvir atentamente: uma cultura justa, na qual os colaboradores se sentem seguros e livres para trazer suas sugestões, reportar eventuais falhas, erros e não conformidades, é o que potencializa – ou abre caminho – para a prática dessas competências.
Nesse sentido, retórica não basta: é preciso começar praticando com quem é de dentro. No ambiente assistencial, falamos que é preciso “cuidar de quem cuida”, o que pode tomar corpo por meio do fomento à diversidade e inclusão, oferta de cuidado aos colaboradores, acolhimento, prevenção de riscos, promoção de uma relação de confiança, transparência e meios de fortalecer uma cultura justa que estreita vínculos. Isso não pode ser visto como gasto, mas como investimento, que traz ganhos para o negócio e toda a sociedade.
Em janeiro deste ano o Fórum Econômico Mundial lançou um relatório em que aponta o calor extremo como o principal risco global no curto prazo. Em 2025, o Brasil será palco da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30). Mais que apontarmos culpados para as catástrofes humanitárias, é preciso assumir nosso papel como agentes de transformação.
Tempos desafiadores exigem criatividade e inovação. E inovar não significa, necessariamente, fazer algo novo, e nem pode ser visto como sinônimo de tecnologia, mas buscar formas diferentes de fazer. É tornar o ordinário extraordinário. Que possamos buscar na simplicidade do ordinário, começando por quem está a nossa volta, caminhos para os desafios do presente.
*Nelcina Tropardi é Diretora-Geral de Jurídico, Relações Governamentais, ESG e Compliance na Dasa
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.