Covid-19: pesquisa aponta importância da nutrição especializada em pacientes internados

Covid-19: pesquisa aponta importância da nutrição especializada em pacientes internados

A infecção por Covid-19 exige muito do organismo. Além das

By Published On: 11/10/2021
A nutrição especializada consiste em repor com precisão os elementos necessários para minimizar o impacto das infecções no organismo. A pesquisa NutriCOVer, financiada pela Danone Nutricia, indicam achados de benefícios para os pacientes com Covid-19 e para alívio dos sistemas de saúde.

A infecção por Covid-19 exige muito do organismo. Além das complicações já conhecidas como as cardiovasculares, neurológicas e pulmonares, em muitos casos, os pacientes internados apresentam também manifestações gastrointestinais e sensoriais, chamadas pela sigla MGSs, como diarreia, náuseas, anorexia, dor abdominal, paladar alterado e perda de olfato. Esses sintomas prejudicam a rotina alimentar e podem acarretar em quadros de desnutrição. O desgaste físico causado pela combinação desses elementos têm dificultado a reinserção dos pacientes na sociedade. Um novo estudo brasileiro apontou que a nutrição especializada pode ajudar a melhorar a recuperação do paciente com Covid-19 e potencialmente acelerar a alta hospitalar.

A pesquisa foi realizada no Hospital Sírio-Libanês e no Hospital de Caridade São Vicente de Paula, ambos no estado de São Paulo. Os resultados foram apresentados no congresso da Sociedade Europeia de Nutrição e Metabolismo (ESPEN) em setembro deste ano.

Para o estudo, foram acompanhados 357 pacientes. Um grupo recebia suplemento quando ficava mais de 2 dias sem atingir pelo menos 60% da meta calórico-proteica. Neste caso, o suplemento era oferecido duas vezes por dia, por pelo menos 15 dias.  O outro grupo recebia a dieta padrão. De acordo com os achados, os pacientes que receberam um suplemento proteico tiveram suas necessidades energético-proteicas atendidas em 95,7% do tempo. Em comparação, apenas 69,6% dos pacientes que receberam a dieta padrão alcançaram mais de 60% das necessidades energético-proteicas.

“Com o uso do suplemento o paciente conseguiu realmente atingir sua meta nutricional durante o tempo de uso. Então isso foi uma grande evidência da importância do suplemento naquele momento”, Paulo Cesar Ribeiro, um dos líderes do estudo e chefe da comissão de terapia nutricional do Hospital Sírio-Libanês.

O estudo faz parte do programa NutriCOVer da Danone Nutricia, uma divisão de nutrição especializada da companhia, que conta com 16 países participantes e financiou estudos independentes voltados para a questão da Covid-19 no Brasil, na França, na Espanha e na Rússia.

Os desafios do corpo na UTI

A nutrição especializada consiste em repor com precisão os elementos necessários para minimizar o impacto da infecção no organismo. Para combater uma doença infecciosa, o corpo consome uma grande quantidade de proteínas. Este elemento é essencial para produzir anticorpos, estancar hemorragias e reparar lesões. Mas, sem a alimentação, obter proteínas do fígado se torna inviável, fazendo com que o organismo recorra às proteínas da massa muscular para poder continuar o combate à doença.

Com isso, há uma grande diminuição do peso e o corpo gradualmente perde suas reservas. No caso da Covid-19, o cenário se repete. O adicional das infecções por coronavírus é o fato de que os pacientes internados podem apresentar dificuldades para se alimentar devido à intubação — o que os torna dependentes de sondas durante a terapia intensiva — ou, nos demais casos, a alimentação torna-se um desafio pela soma de sintomas da doença, como a perda de paladar e olfato, diarreia, falta de apetite, entre outros.

No estudo brasileiro, as evidências indicam que os pacientes com manifestações gastrointestinais foram os que mais precisaram de suplemento e também eram os mais graves.

“Antigamente, nosso objetivo era tirar o paciente vivo da UTI, mas isso não basta se ele não recuperar a qualidade de vida. Então, nosso foco hoje na UTI é tirar os pacientes com a possibilidade de reabilitação mais completa possível”, explica Ribeiro.

O que diz o estudo

De acordo com as evidências do NutriCOVer, observou-se que os pacientes com manifestações gastrointestinais e sensoriais na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) têm dificuldades em chegar aos 60% das taxas ideias de proteínas e calorias, o que com o tempo implicaria em um quadro de desnutrição. Pensando nisso, a pesquisa brasileira analisou se era possível atingir a meta diária energético-proteica através da ingestão de 600 kcal combinadas com 35g de proteína ao longo de 15 dias, duas vezes ao dia, poderia diminuir o risco nutricional causado pela Covid-19. 

A conclusão foi que com substâncias hipercalóricas de 2,4kcal por ml, hiperproteicas de 24% valor calórico total, normolipídica com 35,3% valor calórico total, e o uso do suplemento, os pacientes conseguiram atingir as taxas energéticas-proteicas ideais em 95,7% do tempo. De acordo com o estudo, 20% dos pacientes não toleraram o suplemento. Atualmente, os resultados do estudo brasileiro passam pelas fases finais para publicação.

O estudo realizado na Rússia aponta ainda que a nutrição especializada demonstrou reduzir o tempo de uso de suporte respiratório em 1,4 dias e o tempo de internação em 3,31 dias, além de gerar melhor recuperação da força muscular.

A percepção da nutrição especializada no Brasil

No Brasil, o Ministério da Saúde estabeleceu a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), que tem como objetivo melhorar a saúde da população brasileira através do incentivo de práticas alimentares adequadas e saudáveis. 

Entretanto, os especialistas pontuam que, apesar do documento estabelecer boas condutas para saúde na atenção primária, o documento não engloba a nutrição especializada. Tópico necessário quando se fala do tratamento de desnutrição hospitalar. Além disso, faltam diretrizes nutricionais para pacientes com Covid-19. Sem padronização nas orientações aos profissionais da saúde, aumenta-se o risco de desnutrição nos pacientes. 

Segundo Márcia Schöntag, diretora de Assuntos Médicos e Acesso ao Mercado da Danone, “a nutrição tem um papel poderoso na saúde das pessoas e é também um elemento muito subestimado”. Isso porque a alimentação balanceada colabora com o funcionamento saudável do sistema imunológico. 

Sabe-se que os micronutrientes estão associados à imunidade e bem-estar físico. Já os macronutrientes têm relação com a composição corporal. Além de também influenciar o bem-estar cognitivo. Por essa razão, Schöntag afirma que “a nutrição define quem você é no ponto de vista da saúde”.

“Com a terapia nutricional minimizamos a perda que acontece dentro da terapia intensiva e preparamos melhor esse paciente para quando estiver fora da UTI”, completa Ribeiro. Dessa forma, a nutrição especializada permite que o corpo recupere a funcionalidade de antes com mais facilidade.

Letícia Maia

Estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Fez cursos voltados para comunicação científica da Oxford-Brazil EBM Alliance e do Knight Center for Journalism in Americas. Email: leticia@futurodasaude.com.br

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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    Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha

  • Rebeca Kroll
    Rebeca Kroll

    Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria. Foi trainee do programa "Jornalismo na Prática" do Correio Braziliense, voltado para a cobertura de saúde. Premiada na categoria de reportagem em texto na 2ª edição do Prêmio de Comunicação de Saúde na Primeira Infância da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.

  • Isabelle Manzini

    Graduada em jornalismo pela Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação. Atuou como jornalista na Band, RedeTV!, Portal Drauzio Varella e faz parte do time do Futuro da Saúde desde julho de 2023.

Letícia Maia

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