Dia Nacional de Combate ao Câncer: ainda precisamos falar sobre cigarro

Dia Nacional de Combate ao Câncer: ainda precisamos falar sobre cigarro

Sobrevivente de câncer de laringe, Melissa Medeiros escreve sobre a delicada relação entre tabagismo, deficiências físicas e ostomias respiratórias

By Published On: 26/11/2024
Tabagismo e uso de cigarros entra na pauta do dia nacional de combate ao câncer

Foto: Engin Akyurt/Unsplash

O consumo de tabaco, incluindo cigarros convencionais e eletrônicos, está fortemente ligado ao desenvolvimento do câncer de pulmão, um dos tipos de tumor mais comuns e letais. Globalmente, a doença causou aproximadamente 1,8 milhão de mortes em 2022, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para o Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) projeta, para o triênio 2023/2025, cerca de 97.680 mil novos casos, com taxas de mortalidade igualmente elevadas.

Um dos maiores desafios para o tratamento do câncer de pulmão é a detecção tardia, já que muitas vezes a doença se desenvolve silenciosamente. Sintomas como tosse persistente, falta de ar, dor torácica e perda de peso geralmente se manifestam normalmente em estágios avançados, com um tratamento complexo que inclui quimioterapia, radioterapia e, em alguns casos, cirurgia. Esses procedimentos podem resultar em efeitos colaterais significativos, além de causar comprometimentos respiratórios e cardiovasculares. O uso de cigarros convencionais e eletrônicos está diretamente associado ao desenvolvimento de doenças graves, como o câncer de pulmão, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e até a lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico, conhecida como EVALI (do inglês, e-cigarette or vaping product use-associated lung injury). Esses produtos contêm substâncias tóxicas, como nicotina, alcatrão e metais pesados, que, ao serem inaladas, causam inflamação e danos celulares no trato respiratório, além de levar a mutações que podem evoluir para tumores malignos.

O risco de desenvolver câncer de pulmão é elevado em usuários de ambos os tipos de cigarro. Embora os eletrônicos apresentem menores níveis de alguns carcinógenos, eles contêm altas concentrações de nicotina e outros compostos que aumentam a dependência e ainda prejudicam o sistema respiratório.

Impactos físicos, sociais e implicações econômicas

As sequelas físicas para pacientes com câncer de pulmão avançado incluem enfraquecimento muscular, dor crônica e fadiga, que podem levar a uma perda progressiva de mobilidade e autonomia, causando cansaço extremo e limitando atividades diárias, como caminhar ou realizar tarefas simples e, em alguns casos, necessidade de intervenções cirúrgicas para aliviar sintomas ósseos devido à metástase.

Quando o tumor pressiona a traqueia ou bloqueia as vias aéreas, ou quando surgem complicações respiratórias, pode ser necessária uma traqueostomia — ostomia respiratória que permite ao paciente respirar por meio de um orifício aberto no pescoço (estoma), por onde a pessoa passa a respirar. Doenças pulmonares graves, como a DPOC, e outras patologias relacionadas ao sistema respiratório também podem requerer uma traqueostomia, especialmente em pacientes com dificuldades para manter uma respiração adequada.

Além das consequências na saúde, o custo econômico do tabagismo no Brasil é significativo. Estima-se que o país gaste aproximadamente R$153,5 bilhões anualmente com despesas médicas e perdas de produtividade relacionadas ao consumo de tabaco. Esses custos incluem períodos prolongados de afastamento do trabalho e aposentadorias por invalidez, impactando diretamente o sistema de saúde e a previdência social.

Os impactos emocionais e sociais do câncer de pulmão são amplos, tanto para os pacientes quanto para seus familiares, que frequentemente enfrentam ansiedade, depressão e desafios financeiros. Programas de apoio psicológico são fundamentais para ajudar pacientes e familiares a lidarem com o diagnóstico e as limitações físicas progressivas.

Políticas públicas e ações conjuntas para reduzir o impacto do tabagismo

Compreender a complexidade dos efeitos do tabagismo na sociedade vai além da saúde pulmonar. Para conter este impacto crescente onda dos cigarros eletrônicos, as políticas públicas desempenham um papel fundamental.

Medidas como a proibição de propagandas de tabaco, a inserção de advertências nas embalagens de cigarro, restrições ao fumo em ambientes fechados e o aumento de impostos sobre produtos de tabaco precisam ser mantidas e ampliadas para desestimular o consumo.

Campanhas de conscientização e programas de cessação do tabagismo são essenciais, tanto para reduzir a prevalência do câncer de pulmão quanto para minimizar os custos sociais e econômicos associados, e devem sempre incluir a sociedade civil organizada.

Investir em prevenção e tratamento acessível é uma responsabilidade coletiva, e cada ação para diminuir o consumo de tabaco representa um passo em direção a uma sociedade mais saudável e menos onerada pelos altos custos do tabagismo.

*Melissa Medeiros é sobrevivente de câncer de laringe, laringectomizada total e traqueostomizada definitiva. Fundadora e Presidente Voluntária da ACBG Brasil, Conselheira no Conselho Nacional de Saúde – CNS, Conselheira Consultiva do INCA e Conselheira Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência / SC.

Melissa Medeiros

Melissa Medeiros é sobrevivente de câncer de laringe, laringectomizada total e traqueostomizada definitiva. Fundadora e Presidente Voluntária da ACBG Brasil, Conselheira no Conselho Nacional de Saúde - CNS, Conselheira Consultiva do INCA e Conselheira Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência / SC.

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Melissa Medeiros é sobrevivente de câncer de laringe, laringectomizada total e traqueostomizada definitiva. Fundadora e Presidente Voluntária da ACBG Brasil, Conselheira no Conselho Nacional de Saúde - CNS, Conselheira Consultiva do INCA e Conselheira Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência / SC.

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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