Crescimento de demanda e centralização da jornada do paciente motivaram criação de centro de oncologia do Einstein
Crescimento de demanda e centralização da jornada do paciente motivaram criação de centro de oncologia do Einstein
A Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein anunciou no início […]
A Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein anunciou no início de dezembro a construção de um Centro de Oncologia e Hematologia para compor a rede do grupo. Com investimento previsto de 1,2 bilhões de reais, o novo prédio ficará localizado no Parque Global, uma espécie de bairro de luxo planejado em São Paulo, na região da Marginal Pinheiros e próximo da unidade principal do Morumbi. As obras devem iniciar em abril 2023 e a previsão de inauguração é 2025.
Com 38 mil metros quadrados, o empreendimento concentrará todo o suporte necessário ao paciente oncológico, de diagnósticos aos tratamentos mais avançados, com a utilização de cirurgias robóticas e medicina de precisão, além de pronto-atendimento especializado para essa população, com capacidade de atender 12 mil pacientes por ano.
Em meio a um crescente número de casos de câncer no Brasil, com a estimativa de 705 mil novos casos por ano entre 2023 e 2025, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a criação do centro é mais uma grande aposta da instituição. De acordo com Sidney Klajner, presidente da Sociedade, este será “um ambiente que permitirá a qualquer paciente ter aquilo que precisa no mesmo centro”.
Ele conversou com Futuro da Saúde sobre as expectativas para o empreendimento, o trabalho do Einstein junto à saúde pública e o cenário do câncer. Recém reconduzido a presidência da Sociedade Beneficiente para os próximos 6 anos, Sidney também avalia a sua gestão e fala sobre o que podemos esperar no próximo período.
Por que o Einstein optou por investir em oncologia neste momento?
Sidney Klajner – Quando você olha a epidemiologia do que vai acontecer com o câncer no mundo todo, a estimativa é que a incidência das doenças oncológicas vai aumentar muito. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que hoje são 19 milhões de casos por ano, que deve praticamente dobrar nos próximos 10 anos. Isso impacta, obviamente, a atuação de um setor da saúde na disponibilidade de serviços que cada vez mais possam melhorar o diagnóstico precoce, oferecer o tratamento adequado, principalmente com as tecnologias que vem surgindo, apoiado em medicina genômica e sequenciamento genético, tanto do paciente quanto do tumor para ter uma eficácia melhor e desfechos melhores de tratamento. Com este crescimento de demanda, que vem muito em paralelo com o aumento da longevidade, as pessoas vivem mais, estão mais sujeitas a ter doenças oncológicas, e a gente viu a oportunidade de ter um centro dedicado não somente ao tratamento de alta complexidade, mas principalmente à busca pela detecção mais precoce e a associação cada vez maior com a pesquisa. Quando a gente leva essa estrutura para um centro destinado ao cuidado do paciente com câncer, à terapia avançada e ao suporte de medicina genômica e personalizada, você tem todas as etapas de uma jornada do paciente com câncer, que vai desde a promoção de hábitos mais saudáveis até a detecção precoce. Tudo isso no mesmo ambiente.
A construção deste centro pode de alguma forma aumentar o acesso da população?
Sidney Klajner – Hoje, o Einstein já opera o Hospital Municipal Vila Santa Catarina em parceria com a Prefeitura de São Paulo, onde atuamos não só na gestão, mas na operação com as equipes e com os protocolos. Tanto em oncologia clínica quanto em oncologia cirúrgica. O que eventualmente acontece é que se há necessidade de um tratamento que não é disponível no Vila Santa Catarina, esse paciente vai até o Einstein, faz o tratamento e retorna. Com um centro dedicado e um número de leitos ainda maior, você tem a capacidade de fazer isso mais vezes, oferecendo no viés da equidade o mesmo tipo de tratamento que alguém teria no setor privado para o setor público. Além disso, temos a oportunidade de criar novos modelos de acesso. As oportunidades aumentam, já que você tem uma infraestrutura melhor para isso.
O que podemos esperar deste Centro de Oncologia? O que trará de inovação para a área da oncologia?
Sidney Klajner – A inovação é esse cuidado multiprofissional e multidisciplinar para o paciente oncológico no mesmo ambiente, com profissionais que interagem de uma forma mais fácil. Muito aliado à capacitação profissional e ao ensino, para formação de novos profissionais em oncologia, e também à pesquisa, por conta daquilo que a gente ainda tem que caminhar para trazer as melhores soluções, especialmente em sequenciamento genético, algo que o Einstein já deu largada há alguns anos. O valor agregado a um centro que contempla a infraestrutura para o trabalho desses profissionais juntos, só pode resultar em uma ação melhor para o paciente.
A localização foge um pouco das principais regiões de hospitais de São Paulo. Como foi feita essa escolha e parceria com a incorporadora?
Sidney Klajner – Entendemos que ter o hospital geral do Einstein próximo ao centro oncológico facilitará tanto a comunicação e a logística, seja em relação a insumos como do próprio médico. Se tiver a necessidade de uma avaliação cardiológica no paciente com câncer que será submetido a uma operação, o cardiologista vai vir de algum lugar. Então, faz sentido estar próximo ao Einstein. E a relação com a incorporadora é uma relação de built to suit, onde a construção da infraestrutura vai ser feita a partir de projeto que nós concluímos para a incorporadora. E aí, entramos com a estrutura pronta para o recheio do prédio, quartos, equipamentos e centro cirúrgico. [O Grupo Bueno Netto, responsável pela construção, e outros fundos de investimentos investirão R$ 800 milhões, enquanto o Einstein colocará R$ 400 milhões].
Na mesma semana tivemos o anúncio de centros de oncologia de outros grupos de saúde. Essa área tem espaço para novos investimentos e concorrência?
Sidney Klajner – O que existe muito no Brasil são clínicas oncológicas de infusão de quimioterápicos, que de longe não representam a estrutura de um hospital oncológico. Essa é uma grande diferença. O Einstein atua no segmento público e premium, e obviamente existem outros segmentos que nós não atuamos e vão demandar serviços de oncologia – como já demandam. Em face do aumento do número de casos haverá necessidade, especialmente no SUS, de lidar com esse paciente de alta complexidade. Caso não tenha todas as iniciativas de detecção precoce, o ônus é muito maior para quem é provedor de saúde e também para a sociedade. Isso a gente pode ver quando comparamos o desfecho de pacientes tratados para o mesmo tipo de câncer no setor privado e no setor público, já que atuamos nos dois.
Em entrevista a Veja você comenta que a meta é que o hospital esteja entre os 10 melhores do mundo em 5 anos. Como a construção desse centro colabora com essa meta?
Sidney Klajner – Hoje o Einstein é o 16º em oncologia do mundo. A meta é passar ao menos para 10º em 5 anos depois desse Centro. Vamos ter um atendimento mais integral do paciente por conta da convivência das várias especialidades e formações de profissionais de saúde para isso e a medicina de ponta. Falamos de um ranking de hospitais do mundo inteiro, da Newsweek, e o Einstein ocupa a 16ª posição. Já é uma referência em oncologia no mundo todo.
Você foi reeleito presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Como avalia a sua gestão nos últimos 6 anos?
Sidney Klajner – Foi uma gestão lotada de desafios, já que passamos por uma necessidade de incorporação de novas tecnologias, de desafios com relação ao corpo clínico, que é um corpo clínico autônomo especialmente no sentido de uma organização de alta confiabilidade, e ao mesmo tempo com dois momentos em que, caso não houvesse um background, uma resiliência da organização, a gente não teria performado dessa forma: o primeiro foi a crise econômica em 2018, que foi impactante para o setor de saúde, e o segundo foi a pandemia. No âmbito da pesquisa nós pudemos fazer em tempo recorde estudos que mostraram a não eficácia de medicamentos propostos naquele momento e publicados em revistas de altíssimo impacto. Tivemos ainda a capacidade de transformar toda a estrutura de ensino, praticamente dobrando o número de alunos durante o primeiro ano da pandemia, graças a disponibilização da plataforma de ensino à distância. E na saúde pública contribuímos com o município de São Paulo. Quase 25% dos pacientes que foram internados pelo município estavam em alguma estrutura do Einstein, com a ampliação do Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch, da unidade de pronto atendimento do Campo Limpo, com o hospital da Vila Santa Catarina e com o hospital de campanha do Pacaembu. Fora as iniciativas de telessaúde na região Norte, do Amazonas e do Pará, que permanecem até hoje.
E o que podemos esperar da próxima gestão?
Sidney Klajner – É o mesmo tipo de governança e, do meu lado, mais dedicação. Quando vai assumir esse cargo pela primeira vez é realmente um pouco assustador. Mas o hospital passou de 13 mil colaboradores para 20 mil colaboradores e com isso a experiência também vai aumentando. Para os próximos seis anos eu vejo cada vez mais a presença da meta da equidade em saúde, seja para escalar e atingir um número maior de pessoas e até trazendo o olhar da saúde digital como uma ferramenta para trazer equidade, não só à população que nos cerca mas do mundo todo. Vejo uma atividade colaborativa cada vez maior com outras organizações para atingir metas de qualidade, segurança e desfecho. Isso já vem sendo feito em parceria com Fleury, na criação da empresa Gênesis, por exemplo. Parceria com outras organizações de saúde que algum tempo atrás seria uma heresia a gente fazer dessa forma. E há ainda o suporte tecnológico, inovação como a base e a ferramenta para atingir o propósito, a equidade, cuidado de colaborador, papel da comunicação – que acabou adquirindo papel estratégico e executivo interno – são os norteadores e os viabilizadores do plano estratégico de futuro.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.