Covid-19: o vírus que é rápido ou “nós” é que estamos devagar?

Covid-19: o vírus que é rápido ou “nós” é que estamos devagar?

Em seu novo artigo, a infectologista Rosana Richtmann atualiza o cenário da Covid-19, que segue causando impactos na sociedade

By Published On: 25/09/2024
Casos de covid-19 - Artigo Rosana Richtmann

Foto: Adobe Stock Image

Vocês devem ter observado nas últimas semanas um aumento do número de casos de Covid-19.

SURPRESA?

Não… nenhuma!

Aprendemos nos últimos anos que o vírus SARS-CoV 2 (causador da Covid-19) não irá embora tão cedo. Ele é muito rápido em desencadear pequenas, mas precisas mudanças genéticas na sua estrutura, tornando-se diferente da linhagem precursora a cada dois a três meses. A cada mudança sofrida pelo vírus, a sua capacidade de evadir da resposta imune conferida pela infecção natural pregressa e/ou resposta imune conferida pela vacina “mais recente” aumenta…

Assim, a cada 2-3 meses notamos um aumento do numero de casos de covid por subvariante diferente da que estava circulando “até ontem”. E com isso, a possibilidade de infectar e causar doença nas pessoas mundo a fora.

Felizmente, apesar de ainda termos 70 mortes por semana decorrente da Covid-19 no Brasil, a doença atual costuma ser mais leve e benigna que o que assistimos em 2020/2021.

Mas, existe alguma grupo de exceção que esteja mais vulnerável a Covid-19 grave e/ou Covid longa?

SIM!!! Minha maior preocupação hoje são as crianças, especialmente as menores de 12 meses de vida. Esta coorte de crianças nascem sem proteção contra o SARS-CoV 2 pois ainda não tiveram a oportunidade de receber a vacina e também não tiveram a oportunidade da sua primeira infecção natural. Assim, os pequenos são os mais desprotegidos para a Covid mais grave e suas complicações.

Como mudar este cenário?

  • Vacinação das gestantes, para passagem transplantária de anticorpos neutralizantes específicos contra o SARS CoV 2 para seu bebê. Só assim, seu filho estará protegido de doença grave nos seus primeiros meses de vida!
  • Vacinação dos lactentes a partir de 6 meses de vida.

Mas afinal, o vírus está rápido ou nós estamos devagar?

Ambas as afirmações são verdadeiras! O vírus é um mutante natural. Por outro lado, “nós”, desenvolvedores de vacinas atualizadas (indústria farmacêutica), “nós”, agências reguladoras que autorizam o uso da vacina no nosso país, “nós”, governo responsável por prover vacinas atualizadas a populações, “nós”, cidadãos comuns que não seguimos as recomendações de vacinação do Programa Nacional de Imunização – PNI, estamos muito devagar!

Destes “nós”, alguns podemos agilizar, outros são mais complexos…

Fato é que a Covid-19 vai continuar causando danos à população mundial ao longo do tempo por mais que a gente queira insistentemente ignorar este assunto.

Este é o fato. E sim, ele (o vírus) é rápido e “nós” estamos sempre atrasados…

Rosana Richtmann

Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha

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Infectologista do Instituto Emílio Ribas, Chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana e Membro dos Comitês de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunização e do Comitê Permanente em Assessoramento de Imunização da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e possui Doutorado em Medicina pela Universidade de Freiburg, na Alemanha

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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