Burnout médico se agravou na pandemia e impacta engajamento profissional
Burnout médico se agravou na pandemia e impacta engajamento profissional
O burnout foi incluído pela OMS, em janeiro deste ano,
O burnout foi incluído pela OMS, em janeiro deste ano, na Classificação Internacional de Doenças como uma síndrome ocupacional crônica, dada sua ligação direta com o desempenho no trabalho. Estudos recentes publicados em setembro, um deles na publicação científica The BMJ e o outro na Mayo Clinic Proceedings, constataram altos índices de burnout médico, sendo que o primeiro associa a síndrome à diminuição no engajamento da carreira, enquanto o segundo aborda o aumento da doença sob o contexto pandêmico.
Ambas as pesquisas compreendem que a Síndrome de Burnout envolve três dimensões: a primeira implica na exaustão emocional — ligado ao estresse –, sentimento de sobrecarga e esgotamento emocional e físico; a segunda, a despersonalização, que representa um distanciamento dos aspectos que envolvem o trabalho; a terceira, a sensação de realização pessoal reduzida, ligada à autoavaliação, que leva a sentimentos de incompetência e produtividade inadequada em relação ao ambiente profissional.
Falta de engajamento na carreira e qualidade de atendimento
O estudo publicado na The BMJ fez uma revisão de dados de mais de 200 mil médicos utilizando um formulário padronizado, no qual foram extraídas diferentes informações sobre as características do médico, especialidade, experiência de trabalho, características do burnout e país referente. Constatou-se que, nos EUA, quatro em cada 10 médicos relataram ao menos um sintoma da síndrome; no Reino Unido, um terço dos médicos em treinamento afirmaram que sofrem esse esgotamento em um grau alto ou muito alto.
Dentre outros resultados da pesquisa, as estatísticas apontaram que os médicos com burnout eram até quatro vezes mais propensos a estarem insatisfeitos com a profissão, além de serem três vezes mais propensos ao arrependimento de sua escolha de carreira. Ainda, detectou-se que esses médicos são duas vezes mais propensos a se envolver em incidentes de segurança com o paciente, têm mais de duas vezes mais chances de receber avaliações de insatisfação e mostram profissionalismo reduzido.
Além do aumento no número de casos, essa pesquisa mostrou que médicos que apresentam a síndrome repetidamente relatam insatisfação com a carreira e pouco equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Pesquisas anteriores costumavam focalizar nos efeitos do burnout médico e na eficiência do atendimento, sem levar em conta a ligação entre a síndrome e o engajamento na carreira desses profissionais, fato considerado por esse estudo.
Impacto da pandemia no índice de burnout médico
Já o estudo publicado na Mayo Clinic Proceedings apontou que os níveis de burnout entre médicos norte-americanos se agravaram com a pandemia, de forma que 63% dos médicos relataram pelo menos um sintoma de burnout no final de 2021 e início de 2022, e somente 30% afirmaram se sentir satisfeitos com o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. No Brasil, em setembro de 2020 o portal PEBMED chegou a constatar que havia uma prevalência da síndrome em 83% dos médicos na linha de frente.
Tait Shanafelt, um dos autores do estudo, ponderou que a insatisfação com o trabalho entre os médicos pode estar associada a uma divergência entre o que eles se importam e o que são estimulados a fazer pelo sistema de saúde, dado o contexto de pandemia. Além disso, há o agravamento de questões que já traziam sobrecarga, como o número de mensagens que os médicos recebem sobre os registros eletrônicos de saúde dos pacientes. Com a pandemia, o número de mensagens de pacientes nestes sistemas apresenta um aumento exponencial de 157%.
Outros fatores agravados pela pandemia, apontados pelos médicos, passam pela politização da ciência, a escassez de mão de obra e a difamação dos profissionais de saúde, influenciando no cenário do burnout. Uma pesquisa de 2021 relatou que 23% dos médicos declararam ter sofrido alguma forma de intimidação, ameaça ou assédio por seus pacientes em 2020.
Nesse sentido, o estudo indica que há uma forte necessidade de maiores investimentos para rastrear e melhorar as condições dos profissionais médicos, com o intuito de mitigar o risco de burnout, a piora na qualidade do atendimento e a rotatividade dos profissionais.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.