Biodesign, metodologia de inovação, terá primeiro programa de formação na América Latina

Biodesign, metodologia de inovação, terá primeiro programa de formação na América Latina

A demanda por inovação é crescente no setor da saúde

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By Published On: 18/01/2023

Hospital Israelita Albert Einstein

A demanda por inovação é crescente no setor da saúde e as healthtechs já ocupam o segundo lugar em volume de startups no Brasil, segundo estudo da Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Mas com tantos dados e tecnologias disponíveis é preciso desenvolver estratégias que facilitem e agilizem a criação de novas soluções, como é o caso do Biodesign, metodologia focada especificamente em desenvolver equipamentos médicos e soluções inovadoras.

O Biodesign é uma metodologia de inovação criada no início dos anos 2000 por professores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Desde então, a instituição oferece um programa de especialização para profissionais da saúde, engenheiros, designers, cientistas da computação e administradores interessados em aprofundar seus conhecimentos em inovação em saúde.

O diretor-executivo de inovação do Hospital Israelita Albert Einstein, Rodrigo Demarch, foi o primeiro brasileiro a participar do programa – ele se especializou em Biodesign pela Stanford em 2017. Um dos objetivos do curso, segundo ele, é, além de ensinar a metodologia, formar lideranças que possam levar esses conhecimentos para outras partes do mundo. Na última década, inclusive, a Stanford Byers Center for Biodesign ajudou a inspirar e aconselhar projetos educacionais em 18 países, incluindo Israel, Japão, Singapura, Taiwan, Índia e Austrália.

Em 2023, o curso de especialização em Biodesign chega também ao Brasil, através do Departamento de Inovação do Hospital Israelita Albert Einstein, que se consolida como o primeiro centro de ensino da América Latina a oferecer essa especialização. “Desenvolver pessoas na área de inovação em saúde é fundamental para que tenhamos líderes capazes de impactar profundamente o setor”, afirma Demarch.

Construção de currículo de Biodesign a quatro mãos

A própria Universidade de Stanford apoiou o Einstein na estruturação do curso e passará mais três anos acompanhando o gerenciamento do programa de especialização em Biodesign, o que inclui também a participação de professores da instituição de ensino americana no processo de formação dos pós-graduandos brasileiros.

Segundo Caroline Kanaan, médica e consultora de inovação do Einstein, o currículo foi pensado e desenvolvido para contemplar, em profundidade, as três fases da metodologia do Biodesign, composta pela identificação das necessidades, invenção de soluções e a implementação dessas inovações no mercado:

“Primeiro, é preciso entender as dores do sistema, ir a campo, conversar com quem está no dia a dia da prática hospitalar, pesquisar a literatura, identificar se são necessidades locais ou globais e se há potencial de inovação. O segundo momento consiste em fazer brainstorm, prototipar e filtrar o que funciona. E então, na terceira fase, temos o momento de conhecer o mercado e aprender como transformar aquela solução em produto ou serviço, seja por meio de uma patente ou a criação de uma startup”.

Um dos diferenciais do curso, segundo Julio Frias, engenheiro e consultor de inovação do Einstein, é justamente que a formação está longe de ser passiva. “O Biodesign é uma formação teórico-prática, então não nos valemos daquele modelo em que o aluno apenas absorve o conhecimento por meio de palestras expositivas”.  Na primeira fase do programa, por exemplo, haverá a imersão clínica dos participantes nos hospitais do Einstein, tanto na unidade de saúde suplementar, quanto nas instituições públicas administradas pela organização.

O curso tem duração de oito meses, de abril a novembro, e uma carga horária intensa de 20 horas semanais, sendo 8 horas de atividades em grupo, 2 horas de atividades individuais e 10 horas preenchidas por aprendizado teórico-prático e mentorias, além de um mês de estágio – que pode ser feito no próprio Departamento de Inovação do Einstein ou em outras instituições.

A primeira turma será composta por oito alunos, divididos, de forma interdisciplinar, em 2 grupos. As inscrições estarão abertas até 30 de janeiro e podem se inscrever médicos, engenheiros, cientistas da computação, designers, administradores e outros profissionais da saúde. Os alunos receberão uma bolsa de incentivo no valor de R$ 3.000,00 mensais para cursar o programa.

“Os alunos precisam ser graduados e ter um mínimo de experiência profissional, porque precisarão trabalhar com autonomia. E um conhecimento em saúde é, também, essencial para conseguir acompanhar o programa”, reforça Rodrigo Demarch.

Soluções úteis e ágeis para o mercado da saúde

Os projetos desenvolvidos ao longo do programa serão avaliados por uma banca de experts e poderão receber apoio da incubadora de startups Eretz.bio e do escritório de licenciamento de tecnologias HIT.

Esse é mais um grande propósito do programa, inclusive: acelerar o desenvolvimento de novas soluções. Um bom exemplo são os projetos dos próprios coordenadores do programa do Einstein Biodesign, que tiveram seus trabalhos validados em Stanford e com patente depositada nos Estados Unidos. 

Julio Frias e Caroline Kanaan, que também são egressos de Stanford, identificaram uma questão relevante sobre a perda de acesso venoso periférico nos pacientes e criaram um dispositivo médico que reduz esse problema, atualmente em fase de patenteamento.

“Durante a imersão constatamos que muitos pacientes, depois do procedimento de punção venosa, perdem o acesso venoso com muita facilidade, seja por movimentação acidental ou proposital. Desenvolvemos, então, um dispositivo de segurança que, mesmo quando é desconectado, evita que o acesso seja perdido, o que minimiza custos decorrentes a necessidade de utilização de um novo kit, tempo de trabalho de enfermeiros e consequências como flebite e infecções”, relata Julio Frias.

O projeto está em fase de evolução para que a patente definitiva seja depositada, com a possibilidade de fazer com que o produto chegue a diversos países, visto que essa é uma necessidade global. “Com o Biodesign, pode-se pensar em diversos tipos de dispositivos médicos, pode envolver robótica, instrumentais cirúrgicos, aplicativos, não há limites. E a formação em Biodesign prepara pessoas para atuar no mercado, cada vez mais competitivo, pensando em soluções inovadoras que podem impactar verdadeiramente sistema de saúde”, conclui Caroline Kanaan.

Ana Carolina Pereira

Jornalista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ao longo de sua carreira, passou por veículos como TV Globo, Editora Globo, Exame, Veja, Veja Saúde e Superinteressante. Email: ana@futurodasaude.com.br.

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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