Avanço da saúde digital passa por PPPs, telemedicina, startups e novas tecnologias

Avanço da saúde digital passa por PPPs, telemedicina, startups e novas tecnologias

A saúde digital é uma esfera ampla que engloba ferramentas

By Published On: 12/10/2022

A saúde digital é uma esfera ampla que engloba ferramentas inovadoras como telemedicina, prontuário eletrônico, inteligência artificial, entre outros exemplos — todas com o intuito de aumentar a eficiência e a qualidade do sistema de saúde, impactando a vida dos pacientes e também nas empresas que atuam no setor. É um segmento que apresenta um crescimento exponencial nos últimos anos, acelerado pela pandemia: em 2021, houve um aumento de 79% no investimento de empresas de saúde digital, segundo relatório anual State of Digital Health.

Embora os avanços estejam cada vez mais presentes no cotidiano da sociedade e no planejamento das empresas de saúde, há ainda um longo caminho para que a saúde digital esteja de fato disseminada. Nesse sentido, um dos maiores eventos de saúde digital da América Latina, o Global Summit Telemedicine & Digital Health, que ocorreu entre 4 e 6 de outubro, apontou algumas tendências para a digitalização da saúde: investimento em parcerias público-privadas, atenção para a saúde mental, aumento da atuação de startups e participação de grandes empresas de tecnologia são algumas delas.

Em entrevista exclusiva ao Futuro da Saúde, o neurologista Jefferson Gomes, presidente do evento, lembra que os avanços estão ocorrendo, mas que no Brasil existem dois contextos diferentes, que consequentemente apresentam prioridades distintas:

“No Brasil, nós temos duas situações: o sistema suplementar e o sistema privado. Há necessidade, no sistema público, de investimento na estrutura das unidades básicas de saúde. É onde a telemedicina pode ajudar muito, sem precisar que a pessoa vá ao hospital ou para outra cidade, podendo prover esse cuidado com o apoio de especialistas que estão à distância. Isso está sendo desenvolvido no Programa Nacional de Telessaúde Brasil“, disse.

O grande desafio, no entanto, ainda esbarra na interoperabilidade. “Quanto à relação entre os três níveis (federal, estadual e municipal) no sentido de prover esses caminhos da saúde digital, o grande desafio é de fato integrar os dados. Isso também serve para o sistema privado. Tem muito investimento que precisa ser feito na melhoria de processos”.

Ele lembra que alguns pontos debatidos no evento já estavam contemplados na Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028, documento do Ministério da Saúde com diretrizes para a evolução da digitalização da saúde. Confira algumas das principais tendências do Global Summit apontadas por Gomes:

Telemedicina como ferramenta para melhorar o acesso

“Os grandes beneficiários da telemedicina são os cidadãos, com maior acesso e melhores desfechos para seus problemas de saúde. Isso não se aplica apenas às pessoas que estão em áreas menos assistidas do ponto de vista de médicos, como cidades pequenas e vilas, mas também dentro das próprias regiões urbanas, onde muitas vezes o acesso é mais complexo. Isso foi uma das coisas que o professor Peter Yellowlees trouxe com uma experiência de algumas décadas nos Estados Unidos, com um foco na saúde mental”.

Saúde mental e psiquiatria na saúde digital

“As estatísticas norte-americanas mostram que o crescimento da teleconsulta em relação à saúde mental foi dez vezes maior do que nas outras áreas. […] No Brasil já existem empresas e startups voltadas para saúde mental, a maioria delas são desenvolvidas por psicólogos, e existe um espaço enorme para os psiquiatras também no sentido de formar serviços de atendimento. Na pandemia, os psiquiatras passaram a atender seus pacientes também à distância, mas do ponto de vista de oferecer serviços de uma forma mais ampla e escalável, ainda há um espaço muito grande”.

Inteligência artificial e saúde à distância

“Além da teleconsulta, novas tecnologias tiveram destaque, como a evolução da inteligência artificial sendo aplicada na saúde digital. Há também a questão dos chamados dispositivos para mensuração de sinais de saúde a distância. São tecnologias que podem trazer dados da pressão arterial, eletrocardiograma, oxigenação do sangue, além de possibilitar um exame do ouvido, garganta, olhos, etc. No Brasil hoje a gente tem vários desses dispositivos que foram autorizados e registrados pela Anvisa. Isso vai trazer maior precisão e eficiência no cuidado das pessoas. Essa tecnologia vem evoluindo e, à medida que ela cresce, se torna mais barata e acessível para os cidadãos e empresas”.

5G, metaverso e necessidade de formação

“O 5G é algo que está vindo para transformar a saúde digital, não só pela velocidade de comunicação, mas também pela quantidade e qualidade. […] O 5G como tecnologia vai permitir, por exemplo, que as cirurgias à distância possam ser mais eficientes, mais seguras e possam começar a se espalhar; também tem a questão do que se chama hoje de metaverso, que é a realidade virtual estendida. […]; outro aspecto é a questão do investimento na capacitação e educação (sobre saúde digital), o que é uma necessidade mundial”.

Investimento em startups

“Se a gente olhar do ponto de vista de onde os investidores estão colocando seus recursos, é em cima de startups, lá fora e aqui, porque elas que podem ajudar a trazer soluções. Claro que não é um processo rápido, muitas delas não conseguem chegar no estágio comercial, mas muitas que chegam conseguem atender a necessidade que existe e crescer”.

Participação das big techs

“Todas elas (empresas de tecnologia) percebem que a saúde é um grande nicho de negócios. […] Existem muitas necessidades. […] [Esse interesse] vem acontecendo na saúde, a gente com certeza vai ter uma segurança maior em uma série de aspectos, mas é uma área muito regulamentada, o que é adequado porque se trata da vida das pessoas e não de troca de dinheiro ou informações eletrônicas somente”.

Paola Costa

Estudante de Jornalismo da Cásper Líbero e graduada em Relações Internacionais pela UNIFESP. Compõe o time de redação do Futuro da Saúde desde setembro de 2022. Email: paola@futurodasaude.com.br

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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