Parlamentares pedem adiamento da votação da Reforma Tributária

Parlamentares pedem adiamento da votação da Reforma Tributária

Em audiência pública no Senado, setores da saúde apresentaram distorções no texto da reforma

By Published On: 17/09/2024
Audiência pública sobre reforma tributária

Audiência pública sobre reforma tributária na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Durante audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, realizada na quinta-feira, 12, parlamentares pediram mais tempo para analisar demandas trazidas por entidades de saúde em relação à reforma tributária. Pela manhã do mesmo dia, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Projeto de Lei Complementar (PLP) pode ser votado em novembro para acomodar um eventual retorno dos projetos para a Câmara e a sanção do projeto pelo presidente Lula ainda este ano.

As principais questões levantadas por representantes da saúde durante a audiência foram preocupações sobre a tributação das operadoras de planos de saúde, dos dispositivos médicos e de medicamentos. Diante disso, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) pediu ao coordenador do Grupo de Trabalho de regulamentação da reforma tributária, senador Izalci Lucas (PL-DF), que converse com o governo para adiar a votação do PLP.

“Essa preocupação não é só minha. Por favor, vamos segurar um pouco, dá para ficarmos mais um tempo discutindo, vamos deixar para o ano que vem. Estamos muito envolvidos com as eleições e tem coisas importantíssimas discutidas aqui”, disse a senadora. “Quem está comprando remédio não pode esperar, a vida não espera, a saúde não espera. Não podemos nos acomodar com o que estão todos falando nos corredores, de votar o que é possível até agora e depois melhorar o texto.”

Em entrevista ao programa “Bom dia, ministro” da EBC, Haddad avaliou que os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), devem fazer um esforço para votação já que foram impulsionadores da reforma. Segundo o ministro, um acordo sobre o PLP deve ser buscado após o fim das eleições.

Setores da saúde pedem ressalvas no texto da reforma tributária

Dentre os pontos discutidos na reunião, a tributação dos planos de saúde ganhou destaque. Entidades da área apontam distorções trazidas pela reforma às operadoras de planos de saúde e seus adquirentes. Conforme o texto atual do PLP, os planos de saúde são entendidos como bens de uso e consumo e por isso os adquirentes deverão pagar o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) sobre o valor do plano.

“Na nossa situação, por exemplo, que somos operadoras de planos de saúde, mesmo com a diminuição de 60% de alíquotas, ainda teremos um aumento superior a 100% do custo tributário atual. A grande preocupação é que com isso se tenha um aumento do custo e então vai ocorrer uma evasão da saúde suplementar”, explica Letícia de Barros, advogada e consultora tributária da Unimed.

Além disso, a tributação dos dispositivos médicos também preocupa entidades. Conforme a consultora tributária da Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde (ABIIS), Hella Gottschefsky, a reforma divide os dispositivos em listas de produtos que recebem reduções diferentes nas alíquotas, um com 60% e outro com 100%. Contudo, os produtos que ficarem de fora das listas, principalmente os mais novos e inovadores, podem ter cobrança integral, o que prejudicaria o desenvolvimento do Complexo Econômico Industrial da Saúde.

“Assim não teremos incentivos para uma indústria inovadora, ela não vai ter interesse em desenvolver novos produtos num cenário assim. Então, estamos discutindo e batalhando junto ao Senado para que todos os dispositivos médicos possam vir a ter a redução de alíquota de 60% e trabalhar apenas com uma lista de 100% para produtos que sejam específicos”, diz a consultora.

O setor farmacêutico também expressou sua posição em relação à reforma. Apesar do PLP prever redução de 60% de alíquotas para medicamentos, instituições pedem que o texto garanta sem listas essa redução para medicamentos isentos de prescrição (MIPs) e também 100% para medicamentos tarjados, vacinas e remédios destinados a pesquisas clínicas e compras públicas. “O Ministério da Fazenda precisa olhar a saúde não como despesa e não como geradora de caixa, mas sim como investimento para o trabalhador. Hoje eles estão pensando exclusivamente na arrecadação e querem manter os impostos sobre medicamentos. Temos que ter uma redução tributária total”, afirma Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma).

Rebeca Kroll
Rebeca Kroll

Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria. Foi trainee do programa "Jornalismo na Prática" do Correio Braziliense, voltado para a cobertura de saúde. Premiada na categoria de reportagem em texto na 2ª edição do Prêmio de Comunicação de Saúde na Primeira Infância da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.

About the Author: Rebeca Kroll

Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria. Foi trainee do programa "Jornalismo na Prática" do Correio Braziliense, voltado para a cobertura de saúde. Premiada na categoria de reportagem em texto na 2ª edição do Prêmio de Comunicação de Saúde na Primeira Infância da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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Jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria. Foi trainee do programa "Jornalismo na Prática" do Correio Braziliense, voltado para a cobertura de saúde. Premiada na categoria de reportagem em texto na 2ª edição do Prêmio de Comunicação de Saúde na Primeira Infância da Fundação José Luiz Egydio Setúbal.