Estudos apresentados na ASCO têm resultados promissores para câncer de próstata, pênis e bexiga

Estudos apresentados na ASCO têm resultados promissores para câncer de próstata, pênis e bexiga

Resultados incluem novas estratégias de rastreio, utilização da medicina de precisão com terapias-alvo e combinações de soluções

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By Published On: 19/06/2024
ASCO 2024 traz resultados promissores para câncer de próstata, pênis e bexiga - Einstein

Foto: Adobe Stock Image

Dentre as diversas novidades e estudos apresentados no Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), ganharam destaque alguns resultados relacionados aos tumores geniturinários – que abrangem o câncer de próstata, pênis, testículos, bexiga, rins e uretra. Durante o evento, considerado um dos principais da área e que aconteceu no início de junho em Chicago, EUA, novidades no rastreio, novas combinações de terapias com o foco na qualidade de vida do paciente e alternativas para os casos que evoluem para metástase estiveram em pauta.

O tema é bastante relevante para o Brasil, afinal, o câncer de próstata é o segundo mais incidente no país, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) (sem considerar tumores de pele não melanoma). Entre os homens, é o tipo mais prevalente. A estimativa é de que haja 72 mil novos casos por ano no triênio de 2023 a 2025. De acordo com o INCA, o envelhecimento populacional é um dos responsáveis pelo aumento da incidência deste tipo de câncer globalmente nas últimas décadas: 75% dos casos no mundo ocorrem depois dos 65 anos.

O cenário, no entanto, apresenta diversos desafios para conseguir detectar e tratar de forma precoce esse tipo de tumor. As barreiras incluem desde questões culturais, como o preconceito que muitos homens têm dos exames preventivos (como o de toque retal); e até mesmo a forma como é feita a seleção de pacientes que devem fazer o rastreamento precoce. A realização do exame de PSA, por exemplo, amplamente utilizado como ferramenta para rastreio, carrega ainda um elemento de sobrediagnóstico, o que também influencia na percepção de aumento da incidência do câncer de próstata.

“Hoje, utilizamos o exame de PSA como um dos métodos de rastreio para câncer de próstata, mas ele apresenta grande quantidade de falso positivo e o diagnóstico excessivo de tumores indolentes”, explicou Oren Smaletz, oncologista do Einstein, em vídeo transmitido a partir do estande do Einstein no encontro anual da ASCO.

A hereditariedade também tem influência nesse tipo de câncer e o risco é aumentado entre aqueles cujos pais e irmãos tiveram o tumor antes dos 60 anos. Além disso, o efeito da gordura corporal tem sido observado em estágios mais avançados, de alto grau e fatais, o que indica uma relação entre a obesidade e um pior prognóstico, segundo o INCA.

Avanços no rastreio do câncer de próstata

Neste contexto, um dos trabalhos de destaque na ASCO apresentou soluções de medicina de precisão para a etapa de rastreio no câncer de próstata. O BARCODE1 utilizou dados genéticos de pacientes para montar um exame de risco poligênico – que avalia a interação de genes variados – para saber qual era o risco de desenvolvimento do tumor. Os que tinham um perfil de alto risco foram então submetidos a ressonância magnética e a biópsia de próstata.

“Dos seis mil participantes, somente 500 seguiram para o rastreio. Dos que fizeram biópsia, a detecção da doença ocorreu em 40% dos pacientes, ou seja, 2,8% do total do estudo. Isso é interessante porque, dessa forma, conseguimos detectar tumores que realmente precisam de algum tipo de tratamento”, afirma Smaletz – que lembra, no entanto, que isso ainda não é aplicável no dia a dia clínico. “Mas estamos caminhando para uma medicina de precisão que irá ajudar a saber quem realmente precisa ser rastreado.”

No campo dos tratamentos, a abordagem da medicina de precisão permitiu o desenvolvimento de alternativas às opções terapêuticas mais tradicionais, como novas técnicas cirúrgicas menos invasivas e terapias como as terapias-alvos, desenvolvidas para atacar moléculas específicas envolvidas no crescimento, progressão e disseminação do câncer. Nesse sentido, a descoberta de biomarcadores também tem contribuído nesse caminho, como mostrou um estudo sobre uma nova terapia-alvo que ataca especificamente células da doença que apresentam a proteína PSMA na superfície.

“É interessante notar que, para além dos dados de eficácia, que é o resultado do tratamento, estamos vendo agora dados em termos de ganhos na qualidade de vida e controle de sintomas da doença”, salientou Ana Paula Cardoso, oncologista do Einstein, durante participação na ASCO 2024.

Estudo brasileiro sobre câncer de pênis é destaque

Outro trabalho que recebeu destaque durante a ASCO abordou o câncer de pênis – uma doença que também tem números preocupantes no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, o país ultrapassou 21 mil casos de câncer de pênis entre 2012 e 2022. A doença representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem os homens e, embora o número pareça pequeno, é um tumor que pode ter grande impacto na vida do homem e que é evitável com medidas como higiene básica e vacinação contra o HPV.

O diagnóstico é feito a partir da biópsia de uma das lesões características da doença, e as chances de cura são altas nos estágios iniciais do tumor. A questão é que, conforme o Ministério da Saúde destaca, “mais da metade dos pacientes demora até um ano após as primeiras lesões para buscar ajuda médica”, o que contribui para um pior prognóstico: no estágio mais avançado, o metastático, a taxa de sobrevida é de apenas 9%, aponta a Sociedade Americana de Câncer.

“O estado do Maranhão é o local com a maior incidência do mundo de câncer de pênis. E grande parte da população de pacientes com câncer de pênis, não todos, mas grande parte, são pessoas extremamente pouco favorecidas”, apontou o oncologista Fernando Maluf, cofundador do Instituto Vencer o Câncer e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, durante entrevista recente ao Futuro Talks.

Maluf liderou o estudo HERCULES – LACOG 0218, que avaliou se o uso de imunoterapia associada à quimioterapia tradicional é eficaz e seguro como terapia de primeira linha no tratamento do câncer de pênis avançado. Os dados mostraram que 75% dos pacientes tiveram algum grau de redução do volume tumoral e que 39,4% deles apresentaram redução significativa.

“Os resultados são não apenas uma vitória para a ciência brasileira como também uma prova de que a pesquisa clínica pode e deve olhar para as populações mais vulneráveis”, acredita Maluf.

Novas terapias para o câncer de bexiga

O câncer de bexiga faz parte do grupo de tumores para os quais as terapias também passaram por um hiato em termos de inovação. Com estimativa de pouco mais de 11 mil novos casos neste triênio, o principal fator de risco para a doença é o tabagismo: o risco é até três vezes maior em comparação aos não fumantes, segundo a Sociedade Americana de Câncer. Além disso, a prevalência é maior em pessoas com mais de 55 anos do sexo masculino.

Há anos, o tratamento era baseado em uma combinação de quimioterapia com platina, mas em meados de 2010 surgiram as primeiras opções de imunoterapia e terapia-alvo para esse tipo de tumor. Agora, a aposta está na combinação de diferentes terapias para alcançar resultados positivos e garantir uma melhora na qualidade de vida do paciente.

“Vimos uma grande mudança no tratamento desses pacientes. Recentemente, tivemos a chegada de um anticorpo conjugado associado a uma imunoterapia, mostrando resultados muito superiores em termos de tempo de vida dos pacientes e tempo para progressão da doença”, aponta Ana Paula Cardoso.

A nova terapia foi apresentada durante a ASCO 2024. A médica conta que, por se tratar de uma nova droga, é preciso ainda entender os possíveis efeitos colaterais para saber como manejá-los da melhor maneira possível, e cita a reavaliação da dosagem: “As respostas podem ser proporcionais às reduções de dose mas, mesmo assim, elas são melhores do que o tratamento padrão anterior, que era aquela combinação baseada em platina.”

Uma outra combinação, que já havia sido apresentada na edição anterior do encontro, une a quimioterapia e a imunoterapia no tratamento de pacientes com câncer de bexiga com metástase nos linfonodos. Os novos dados trazem resultados favoráveis em termos de resposta à terapia. “São estudos que nos ensinam um pouco mais a como tratar esses pacientes, a como selecionar a melhor combinação de drogas para cada caso que atendemos no consultório”, reforça a oncologista.

Isabelle Manzini

Graduada em jornalismo pela Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação. Atuou como jornalista na Band, RedeTV!, Portal Drauzio Varella e faz parte do time do Futuro da Saúde desde julho de 2023.

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One Comment

  1. Prof.Mário Dantas Cunha 28/06/2024 at 11:59 - Reply

    É preciso investir nos trabalhos de prevenção,pois sem dúvida sempre sera mais significativo previnir do que remediar!

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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