As vacinas contra o câncer
As vacinas contra o câncer
Enquanto as atenções de todo mundo se voltam para as […]
Enquanto as atenções de todo mundo se voltam para as vacinas contra a Covid-19, absolutamente necessárias para que possamos retomar nossa rotina neste “novo normal”, creio que seja um momento oportuno para falar das imunizações que já existem e comprovadamente podem ajudar a prevenir o câncer.
Um dado importante que devemos colocar em evidência é que as infecções por vírus e bactérias são a terceira maior causa de tumores malignos, depois do tabagismo e da obesidade.
Entre as mais incidentes, em primeiro lugar está a infecção por HPV – papilomavírus humano, que pode causar tumores de colo de útero, vulva, canal anal, garganta e pênis. Todos estes tipos de câncer poderiam ser prevenidos com a imunização, que deve ser feita em crianças, dos nove aos treze anos. A vacinação nesta faixa etária é fundamental porque, quando a pessoa é infectada, a vacina não consegue retirar o vírus do organismo.
A segunda causa bastante importante de câncer devido a infecção são as hepatites. Os tipos B e C aumentam muito a chance de inflamação do fígado, causando câncer como consequência. Para a hepatite C, infelizmente não temos vacina; mas para a B temos vacinação inclusive disponível nas unidades de saúde em todo território nacional.
Um terceiro ponto que vale destacar é a infecção pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori), que pode causar câncer de estômago ou de esôfago da parte distal. O contágio ocorre quando há consumo de água e alimentos contaminados, pela falta de higiene e pelo contato com vômito ou fezes de pessoas infectadas. O diagnóstico é feito por meio de endoscopia. O tratamento adequado abrange o uso de antibióticos que diminuem, também, o risco deste câncer.
A vacina do HPV
Existe, atualmente, um grande debate sobre eficácia e segurança dos imunizantes. Em relação a vacina do HPV, por exemplo, houve um movimento grande de desinformação sobre riscos e efeitos colaterais.
Compartilho com os leitores, então, um estudo robusto publicado recentemente no New England Journal of Medicine que mostrou, de forma inédita, a eficácia da vacinação contra o papilomavírus humano. Os pesquisadores avaliaram dados sobre mulheres suecas, entre seus 10 e 30 anos, no período entre 2006 e 2017.
O câncer de colo de útero foi diagnosticado em 19 mulheres que receberam a vacina quadrivalente contra o HPV e em 538 mulheres que não receberam a imunização. A incidência cumulativa da doença foi de 47 casos por 100 mil pessoas entre as mulheres que foram vacinadas e 94 casos por 100 mil entre aquelas que não foram. Logo, a vacina foi associada a um risco substancialmente reduzido de neoplasias em nível populacional.
O Instituto Nacional de Câncer estima mais de 16 mil novos casos por ano de câncer de colo de útero no Brasil. É o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. É um problema nacional de Saúde. A vacina para o HPV está disponível na rede pública, mas apenas um terço dos meninos e meninas na faixa etária recomendada está vacinado.
Como melhorar a vacinação?
Ciente desta questão, o Instituto Vencer o Câncer estrutura um projeto de âmbito nacional do para aumentar a amplitude de vacinação de crianças. Precisamos quebrar resistências. Informar sobre a importância da imunização para mães, pais e responsáveis. Muitos, infelizmente, não querem explicar para crianças que a vacina precisa ser tomada na infância, antes do início da atividade sexual. Também precisamos driblar as dificuldades no acesso, a ida aos postos de saúde. Se conseguirmos promover a vacinação, temos grandes chances de erradicar os tipos de câncer que citei anteriormente e salvar milhares de vidas.
Reforço que as vacinas para hepatite B e HPV são 100% seguras e seus efeitos colaterais, quando existem, não são graves. Precisamos enfrentar com coragem esta onda de notícias falas e informações erradas que acabam chegando à população já fragilizada em tempos de pandemia. A consequência a uma reação prejudicial, que cria um conceito errado de desconfiança dos métodos científicos e da própria Ciência.
Temos uma chance única de tirar diversas doenças do esquadro do cenário brasileiro e não podemos desperdiçá-la.
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.