Anemia por deficiência de ferro: novas incorporações e mudanças nos protocolos clínicos devem alterar a jornada do paciente
Anemia por deficiência de ferro: novas incorporações e mudanças nos protocolos clínicos devem alterar a jornada do paciente
Anemia por deficiência de ferro: novas incorporações e mudanças nos protocolos clínicos devem alterar a jornada do paciente
A jornada de um paciente com deficiência de ferro e com anemia causada pela condição sempre foi um desafio. Primeiro, por atingir um leque muito amplo da população, em diferentes contextos e momentos da vida. Segundo, por ser um processo que ocorre de forma gradual na maior parte das vezes – a deficiência de ferro vai evoluindo aos poucos até culminar no quadro de anemia – e, portanto, não é diagnosticada no tempo certo. E terceiro, porque o reabastecimento do estoque de ferro nem sempre ocorre da forma correta, seja por falta de detecção, de acesso ou até de adesão do próprio paciente por intolerância. A capacitação dos profissionais de saúde, a identificação do problema e o tratamento adequado têm potencial de mudar esse cenário. O tema foi amplamente debatido no mais recente episódio do Podcast Futuro da Saúde.
A deficiência de ferro é caracterizada pela diminuição dos níveis de hemoglobina no sangue devido à falta do nutriente. Sem as quantidades adequadas de ferro no organismo, a capacidade do sangue em transportar oxigênio fica comprometida, o que pode levar a várias consequências. Alguns sintomas mais conhecidos são fadiga, fraqueza, distúrbios do sono, palidez, diminuição da capacidade de praticar esportes, entre outros. Em casos mais críticos, afeta até o desenvolvimento cognitivo e motor. “Muitas vezes, os médicos têm dificuldade de fazer diagnóstico. Por isso é importante que o conhecimento esteja espalhado entre todos os profissionais da saúde”, disse, durante o podcast, o hematologista Cesar de Almeida Neto, professor livre-docente da Disciplina de Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da USP e gerente médico do serviço de hemoterapia do Hospital DASA Nove de Julho.
Segundo a OMS, cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo possuem anemia. No Brasil, a anemia ferropriva tem prevalência de 53% e pode ocorrer em pessoas com idades e em condições de saúde diferentes – como em mulheres com sangramento uterino anormal, gestantes, bebês em fase de amamentação, pessoas com insuficiência cardíaca ou até mesmo após uma cirurgia bariátrica. “As pessoas acabam normatizando a anemia. Um indivíduo muitas vezes acha que é algo leve, mas sempre precisa ser investigado. Porque por trás de uma anemia pode ter uma doença complexa”, defende o hematologista Almeida Neto. “É preciso identificar a causa da anemia, porque se só tratar a deficiência de ferro, a condição pode voltar”.
Deficiência de ferro no SUS
A realidade de pacientes com deficiência de ferro e anemia tende a mudar após a chegada de uma nova terapia tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto na saúde suplementar. Administrada por via endovenosa, a nova terapia tem potencial de corrigir a rota da doença de forma mais rápida e prolongada. “Em uma única administração, que leva de 15 a 30 minutos, é possível repor não só a quantidade de ferro que o indivíduo precisa para tratar a sua anemia, como repor os estoques”, afirma Almeida Neto. Em comparação com a opção via oral, segundo ele, esse processo poderia levar de 2 a 6 meses.
Santusa Santana, diretora de soluções educacionais e consultoria da Lit Health, que já atuou também como gestora do componente especializado da assistência farmacêutica na Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais e como consultora técnica do Ministério da Saúde, lembrou que ainda há o desafio do acesso na ponta. A incorporação foi apenas uma etapa dentro de um processo complexo até uma tecnologia chegar de fato aos pacientes – pela lei, há um período de 180 dias para isso. “Às vezes a gente acha que incorporou, resolveu. Não é bem assim. Dentro desses 180 dias, o Ministério da Saúde vai pactuar junto aos estados e os representantes dos municípios quem vai ser o responsável pelo financiamento desse medicamento”, detalha Santana.
Depois disso ainda há a atualização do PCDT, que vai definir os critérios de acesso, como será feita a administração da terapia – se ela poderá ser realizada em um Unidade Básica de Saúde ou em um hospital, por exemplo – e quais especialidades podem prescrever – se um profissional da atenção primária ou um especialista. Santana aponta, contudo, que não basta a existência do protocolo, mas também a disseminação da informação para todo o sistema: “O SUS, hoje, faz a incorporação, mas ele não faz essa divulgação em massa. Por isso é preciso haver uma sincronia entre os vários atores envolvidos, para que o paciente lá na frente tenha acesso ao medicamento”.
Essa capacitação dos profissionais, na visão dela, “é um gargalo que a gente tem no SUS e que precisamos urgentemente mudar para que os profissionais da ponta tenham segurança. Porque muitas vezes os profissionais não aplicam o medicamento ou não dão uma orientação por não terem confiança, no sentido de não ter informação para passar. É extremamente importante que essa incorporação venha junto com a capacitação para garantir que o profissional e o paciente fiquem seguros com aquele tratamento”.
Para acompanhar a entrevista completa, ouça a íntegra do episódio do podcast Futuro da Saúde. O programa pode ser ouvido em diversas plataformas, como Spotify, Deezer e Google Podcasts.
Por fim, confira aqui outros episódios.
(Conteúdo oferecido por CSL Vifor – BR-FCM-2300282)
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NATALIA CUMINALE
Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.