Andrea Bocabello, diretora de inovação do Fleury: “Startups têm dificuldade de se tornarem fornecedoras”

Andrea Bocabello, diretora de inovação do Fleury: “Startups têm dificuldade de se tornarem fornecedoras”

Empresa acaba de criar o Amplia, plataforma que pretende aumentar a interação com startups e se junta a outras iniciativas de inovação do grupo

By Published On: 12/12/2023

A inovação tem permeado cada vez mais os diversos segmentos da saúde. Para resolver as necessidades do setor, startups surgem com ideias inovadoras e as grandes empresas estão de olho — e ávidas — na busca por essas soluções. É uma jornada de certa forma já conhecida, da ideia e comprovação da tese ao teste prático e introdução do mercado — recheada muitas vezes por rodadas de investimento — e repleta de desafios e aprendizados. Mas essa evolução ainda esbarra em um ponto importante: a transição de uma startup para empresa estabelecida no mercado, capaz de dar escala ao produto, mantendo foco e qualidade. É o que apontou Andrea Bocabello, diretora executiva de estratégia, inovação e ESG do Grupo Fleury, em entrevista exclusiva ao Futuro da Saúde.

A empresa atua de forma mais intensa e organizada nessa área de fomento a startups desde 2017 e já teve contato com mais de 800 novas empresas de lá pra cá. No fim de novembro, o Fleury criou o Amplia, um site que funcionará como um novo canal de contato com startups, cujo objetivo é aumentar o alcance e a chance de identificar oportunidades. “Se tivemos contato com 800 startups nos últimos anos, agora queremos saltar para 5 mil nos próximos”, aponta Bocabello. A plataforma trará desafios do Grupo Fleury, alinhados à estratégia de negócios, para que empresas apresentem suas soluções e se junta a outras duas iniciativas da área: o Prêmio de Inovação do Grupo Fleury (PIF), que já está em sua nona edição, e o AmpliaMente, programa interno de estímulo à inovação para os colaboradores.

Durante a conversa, a diretora contou que a maior dificuldade que percebeu das startups nesses últimos anos é a virada para uma empresa maior, “quando ela precisa deixar se ser uma startup para virar um fornecedor”. Ela também falou dos aprendizados do próprio Fleury ao longo do tempo, que passa por permear a cultura de inovação por todos ao invés de apenas criar um núcleo dentro de alguma área.

Confira os principais trechos da entrevista:

Qual a relação do Fleury com o mundo da inovação?

Andrea Bocabello – Inovação sempre foi ligada ao universo do P&D. O próprio Fleury nestes quase 100 anos sempre atuou nessa área, com pesquisas em universidades. Mas de uns 20, 10 anos para cá, temos muita presença de startups em saúde. Já fazíamos muitas coisas na área, produzimos patentes, temos diversas pesquisas aprovadas com os órgãos de pesquisa de medicina. Sempre com o conceito de inovação aberta, no sentido de trazer terceiros. E com startups, começamos a tatear lá por volta de 2015. O foco é acompanhar como alguém vai trazer uma disrupção no setor de saúde por meio da tecnologia. Todo mundo começou a olhar para dados. Amazon, Google. O próprio Fleury. Porque a revolução de tech aconteceu baseada em comportamento de dados. Isso também deve acontecer em saúde, mas é mais difícil. É muita inteligência médica, muita ciência, muito elemento de comportamento. Coisas que vão além do dado cru. Dentro de uma própria cidade como São Paulo, por exemplo, as informações podem mudar de bairro para bairro. Até a água que uma pessoa bebe pode vir de fontes diferentes, porque a cidade é tão grande. Então, há muitos dados que não são fáceis de correlacionar com uma doença.

E como esse trabalho com as startups se desenvolveu ao longo dos anos?

Andrea Bocabello – Ao longo dos anos fomos tateando para conhecer. Quando chamávamos as startups para participar das nossas iniciativas, era olhando o setor como um todo. Chegamos a dar prêmios para startups que nunca trabalharam conosco, porque queríamos ter acesso à informação e esse era o principal canal na época. Nos últimos cinco anos, tivemos contato com 800 startups. Avaliamos, demos feedback. Era uma troca. Fomos ganhando conhecimento de quem eram, o que estavam olhando e quais eram as dificuldades que estavam encontrando. E, além de fornecer dados para eles poderem ter matéria-prima para trabalhar, dávamos também gestão, como um processo de aceleração. Então, esse era o nosso empenho, entre 2017 e 2019.

E de lá para cá?

Andrea Bocabello – Da pandemia para cá, duas coisas mudaram. Uma é que acelerou muito esse elemento das healthtechs. Veio a telemedicina. Os prontuários eletrônicos ganharam muito espaço. O uso do computador pelo médico, o acesso e comparação de laudos. Muita coisa de tecnologia interna e externa. Todo mundo começou a evoluir em como criar ferramentas de trabalho para o serviço médico. E aí começou a mudar um pouco o foco. A ideia inicial era que a inovação rompesse o setor de saúde. “As pessoas não vão mais sair de casa, vai ter um robô que tira sangue na residência”. Achamos que ia bombar desse lado. No fim, vimos que evoluiu mais na questão de dados, que começaram a trabalhar em pequenas engrenagens de inteligência artificial. Suporte ao médico, agendamento por WhatsApp, automatização de pedidos médicos e agendamento de exames. Apareceram várias startups oferecendo esse tipo de solução, mas é algo que o mundo inteiro tem e vende, porque todo mundo precisa desse tipo de serviço.

“Logo, as startups migraram menos para a solução do serviço de saúde em si, e mais para ferramentas de gestão. E viemos acompanhando esse movimento.”

O que o Fleury tem hoje nesse sentido?

Andrea Bocabello – Mantivemos o PIF [Prêmio de Inovação do Grupo Fleury], temos um departamento de inovação, que faz também o trabalho de buscar soluções no mercado, e temos também uma estação no InovaBra, onde acompanhamos e criamos interações. Quando identificamos potenciais, puxamos essas startups na tentativa de converter soluções no mercado para atender necessidades que temos internamente em todas as áreas, não só na área médica. A área de inovação tem essa função de trazer o que está fora, na universidade, o que está vindo da área de pesquisa e testar dentro do grupo. E aí criar espaço para essa solução virar um fornecedor, um produto, o que for. O trabalho dessa área é a fase da gestão. E chegamos agora ao Amplia.

Como nasceu e o que é exatamente o Amplia?

Andrea Bocabello – Sentíamos necessidade de ter um canal com mais velocidade de acesso a essa informação e que facilitasse essa engrenagem de como eu trago a solução para o ambiente de teste para virar uma potencial investida via Kortex [braço de investimento do Grupo Fleury] ou um fornecedor para nós. E o Amplia é um site, tão simples quanto isso. É o canal de comunicação com a área de inovação e com a área interna de informação. Por lá, conseguimos soltar desafios, chamar atenção, gerar exposição em rede social para mais gente ter acesso. A expectativa é passar das cerca de 800 startups com quem a gente se relacionou nos últimos 5 anos para 5, 6 mil. Queremos ampliar o acesso, que muito mais gente consiga interagir conosco. O Amplia vem com esse pensamento.

O principal objetivo, então, é ampliar o alcance para encontrar mais soluções?

Andrea Bocabello – Sim, ele tem o objetivo claro de incorporar mais soluções ao grupo. Nosso desafio e estratégia de inovação global visam encontrar soluções sustentáveis para nossos negócios. Isso pode envolver otimização de agenda, garantia de excelente qualidade e aprimoramento de produtos, como o Quoretech, o holter sem fio. Desta forma, conseguimos atender às demandas dos clientes que buscam a excelência técnica associada à nossa marca premium. Além disso, tenho o compromisso com a busca da inovação em sustentabilidade global e em diversas frentes, incluindo diversidade, governança e ética. Isso implica em explorar ferramentas em várias áreas, indo além da simples aplicação de soluções de mercado. Anteriormente, nossa área de inovação não contemplava soluções para governança, corrupção ou controladoria. Agora, com essa mentalidade abrangente, consolidamos um canal central para discussões sobre todas as soluções disponíveis no mercado. Áreas como digital, dados, recursos humanos, contabilidade, jurídico, dentre outras, podem apresentar startups com soluções relevantes através deste canal. A partir daí, encaminhamos para testes internos e validação das soluções. Portanto, respondendo diretamente à sua pergunta, nosso objetivo é ampliar não apenas a quantidade, mas também a variedade de soluções disponíveis. Buscamos mais especialidades e inovações para enriquecer nosso portfólio.

Vocês tiveram que se reestruturar internamente pensando nesse aumento de interação com startups?

Andrea Bocabello – Não foi necessário ampliar os recursos internos. O que tivemos que fazer, e já estamos executando, foi envolver toda a empresa no pensamento inovador. Contamos com 20 mil colaboradores, todos prontos para contribuir com ideias, identificar desafios, apresentar soluções e estabelecer conexões com indivíduos que possuam soluções. Dessa forma, buscamos integrar cada vez mais nossas equipes às áreas de sustentabilidade corporativa e inovação, permitindo que tragam desafios e participem ativamente na implementação de soluções, fornecendo feedback valioso. Esse conhecimento e a habilidade de interagir com startups foram disseminados por toda a empresa. O que fizemos foi estabelecer processos que otimizam nossa capacidade de testar um maior número de startups ao longo de um único ano.

Algumas empresas optam por fazer núcleos específicos de inovação, mas vocês estão tentando disseminar isso para toda a empresa. É isso?

Andrea Bocabello – Sim. Temos discutido. Desejamos que toda a empresa tenha metas de inovação, assim como temos metas de sustentabilidade corporativa. Isso permitiria realizar testes específicos em unidades, incentivando-as a testar soluções predeterminadas. Elas precisariam se organizar para atender a essas metas estabelecidas. A área digital já está bastante avançada, com centenas de dados distribuídas em vários setores da empresa. É crucial expandir esse conhecimento de dados para toda a companhia. Portanto, ao capacitarmos as pessoas com habilidades em pensamento digital e tecnológico em todas as áreas, elas começam a demandar inovação como uma fonte de soluções. Por exemplo, alguém pode expressar a necessidade de uma solução para um problema específico e, enquanto isso é resolvido, iniciamos o processo de procurement do futuro através da área de compras.

No site do Amplia existem alguns desafios lançados em áreas específicas e queria entender um pouco mais desses pilares e desafios.

Andrea Bocabello – Olha, constantemente ajustamos nossos desafios para acompanhar as tendências e necessidades da sociedade, respondendo às demandas e dores do momento. Isso é uma constante. No entanto, o alicerce de nossa inovação está sempre alinhado com a estratégia do grupo. Atualmente, focamos intensamente na coordenação da jornada, integração de dados e na aplicação de inteligência artificial para prever problemas de saúde. Falando em estratégia, a nossa abordagem estratégica geralmente tem uma duração de cinco anos, sendo revisada anualmente para ajustes. Estamos atualmente no terceiro ano de maturidade do atual plano. Quanto ao Amplia, ele deve evoluir de acordo com a maturidade dessa estratégia. É algo fixo em pedra? Não. Se ajustará conforme a estratégia da empresa evoluir. Não alteramos completamente a temática a cada ano. Por exemplo, este ano focamos em dados, mas não planejamos mudar para ética no próximo ano. No entanto, os desafios são flexíveis, considerados como temporadas.

“A cada temporada, escolhemos um tema ou desafio específico para que as startups possam apresentar soluções.”

Olhando essa experiência acumulada nos últimos anos, quais foram os principais aprendizados? Onde estão os maiores desafios nessa relação com startups?

Andrea Bocabello – Quando alguém monta uma startup, há o fundamento técnico. A maioria das inovações que recebemos é pesquisa. No caso da pesquisa, o empreendedor fez a pesquisa e sabe, por exemplo, que a bactéria A dura X tempo para virar a bactéria B, que faz tal mutação e funciona de tal jeito. Aí eles chegam para nós procurando a aplicação prática dessa tese estratégica deles. Chegam com uma apresentação e montam um case hipotético a partir de pesquisas de mercado que fizeram, identificaram as dores e como seria uma solução ideal daquilo. Se for uma pesquisa universitária, acadêmica, ele vai ter dados, vai ter feito aquilo em ambiente controlado e vai falar “olha, eu tenho uma amostragem de 200 pacientes que tiveram essa resposta. Eu preciso ampliar a minha base de acesso”. E a startup de negócios é a mesma coisa. Ela precisa de mais dados de negócios. Esse é o primeiro desafio e o nosso principal trabalho.

E o segundo desafio?

Andrea Bocabello – Depois que a primeira fase passou e eles conseguiram acesso aos dados, eles voltam com os achados. E eles não sabem exatamente como transformar o achado em produto. Aí entra a parte de gestão e mentorias sobre como criar um produto, como vai gerar valor, como será vendido, precificação. Aí começa um vai e volta. Nesse momento, normalmente essas empresas já estão começando a captar dinheiro. Chegam administradores pelos investidores, um conselheiro, conselho consultivo. Ele começa a ficar um pouco mais forte em gestão. Ele já montou o modelo de negócio, tem um produto e traz para testes. Rodamos e devolvemos os testes e ele tem um case montado para oferecer para o mercado em geral. Aí chega o terceiro problema, que conseguimos resolver pelo Kortex.

Qual é esse terceiro problema?

Andrea Bocabello – Ele precisa de algum investidor grande, de peso, para ampliar o serviço dele. Depois que ele consegue esse financiamento, ele leva uns 3, 4 anos para o modelo de negócio amadurecer. Então, ele precisa de financiamento com alguma constância. Ao mesmo tempo, tem que manter os clientes já captados satisfeitos, senão ele perde a receita e o investidor também não quer entrar. Aí chega o momento que fica mais difícil. Se identifico uma solução boa e quero fazer isso para o Brasil inteiro, eu consigo? Tem escala? Tem produção? Quanto tempo ele leva para eu conseguir colocar um produto em 5 mil unidades simultaneamente no país? A startup não consegue. Ela tem 10 pessoas trabalhando lá. Não tem como ele produzir 5 mil unidades. Não tem uma fábrica. Ela precisa deixar de ser uma startup nesse momento e deveria virar um fornecedor de alta escala. E essa é a passagem que eu acho que o Brasil tem sofrido. Como Fleury, temos como negociar com ele em volume. Colocaria na área de Compras e não mais na área de inovação. Ele vai ser pressionado por preço, entrega, vai ter que cumprir meta. Só que ele ainda está montando o negócio dele.

“Então, essa passagem é um dos principais desafios hoje de sucesso das startups. E muitas vão quebrar nesse momento.”

Por quê?

Andrea Bocabello – Porque elas precisam crescer para ter mais receita, para atrair mais investidores. Se elas não aumentam receita, elas não conseguem investir. Se o investidor não entra, elas também não têm dinheiro para aumentar a produção. Muitas empresas nesse momento vão ser adquiridas por empresas maiores, que podem gostar da solução e conseguem produzir. Ela pega a patente e começa a produzir amanhã se ela quiser. Só que a startup tem que querer vender. É isso versus alguém botar dinheiro e fazer o negócio dele crescer. São discussões. Falei desse cenário considerando um produto, mas há também startups com soluções de dados que entram em outra realidade.

O que acontece nesse caso?

Andrea Bocabello – É outra realidade porque não é produto, é codificação e inteligência médica. Por exemplo, uma startup que desenvolve uma solução para câncer de mama. Desenvolvemos um trabalho em conjunto, forneci os dados de sangue e a empresa traz código, o algoritmo que vai comparar a base de dados de exame de sangue com a de desfecho clínico. Quem foi operado, quem não foi, qual o quimioterápico funcionou, qual o tipo de câncer. Cruza a base toda. Em 70% dos casos conseguimos identificar com indicadores do exame de sangue que o paciente vai chegar num determinado resultado de câncer. Consigo antecipar a necessidade de mamografia, monitoramento e enxergo como um potencial paciente oncológico. A solução é ótima e quero ampliar isso para 88 tipos de câncer. A startup não tem conhecimento para montar o algoritmo, porque cada especialidade médica é diferente. Preciso fazer essa ponte. Só que para desenvolver uma nova solução, vai demorar uns cinco anos. É muito lento. Então, como faço para que essa startup vire um fornecedor de grandíssima escala, ser uma empresa gigante de inteligência artificial focada em oncologia? Ou eu consigo ter 88 startups iguais, cada uma dentro de uma especialidade?

É o desafio da escala.

Andrea Bocabello – Quando falamos em escalabilidade, é crucial considerar o lançamento de produtos subsequentes, especialmente no campo da inteligência médica, onde a combinação é complexa e o processo é moroso, envolvendo indivíduos com conhecimentos diversos, o que pode ser percebido como um processo lento.

“Empresas desse tipo têm uma existência limitada como startup e precisam evoluir para algo mais sustentável para atender como fornecedora a longo prazo.”

E internamente, qual foi o principal aprendizado dentro do Grupo Fleury?

Andrea Bocabello – Em primeiro lugar, a aceitação das pessoas em relação aos serviços digitais, impulsionada significativamente pela pandemia. As pessoas passaram a reconhecer que os serviços digitais são tão eficientes quanto os serviços presenciais, com correções rápidas de erros e constantes atualizações. Notadamente aqui em São Paulo, nosso público, incluindo colaboradores, adaptou-se ao mundo digital com rapidez nos últimos anos. Essa transição foi um grande aprendizado para nosso grupo, facilitando nossas conversas sobre startups e inovações, uma vez que as pessoas agora compreendem os termos e conceitos. Ganhamos, assim, um nível de conhecimento interno e externo, fortalecendo nossa comunicação. Em segundo lugar, acredito que compreender nossos próprios defeitos foi essencial. Ao interagir com startups, não apenas identificamos problemas externos, mas também os desafios internos que nos impedem de evoluir ou gerar determinadas ideias. Esta reflexão nos permitiu mergulhar em questões estratégicas da empresa. Romper com as barreiras mentais e culturais do grupo para aceitar a inovação como um caminho de aprendizado foi um desafio que superamos ao longo desses anos. Por fim, estamos em processo de ampliar o pensamento de inovação e digital para todos os nossos colaboradores. Reconhecemos a necessidade de desenvolver novas competências, como soft skills, algo que o Brasil não tradicionalmente ensina nas escolas e universidades. Estamos conscientes dessa lacuna e planejamos preenchê-la por meio de treinamentos, exposição e projetos práticos, capacitando nossos colaboradores para enfrentar os desafios futuros. Dessa forma, não apenas aprendemos a utilizar recursos digitais, compreendemos melhor o conceito de inovação, lidamos mais eficazmente com as barreiras de perfeição, risco e erros, mas também estamos investindo na aquisição de novas competências para nossos colaboradores.

Em uma reportagem do Futuro da Saúde o Fleury chegou a afirmar que as metas de ESG chegaram a entrar como um dos indicadores que refletia no bônus, no PLR dos colaboradores. Você acha que vai caminhar também para uma hora a inovação ser um indicador?

Andrea Bocabello – Quando estabelecemos metas internas, elas funcionam como compromissos públicos. É como se tivéssemos assinado um pacto. Se não cumprirmos, precisamos assumir a responsabilidade publicamente, diante de investidores e credores, o que afeta diretamente nossa reputação e credibilidade. O mesmo se aplica aos colaboradores, que conhecem as metas e os resultados, incentivando a autorreflexão e a busca por melhorias. O estabelecimento de metas específicas é eficaz no Grupo Fleury. Nosso compromisso público com metas é divulgado para toda a empresa e o não cumprimento seria uma vergonha para os 20 mil colaboradores. A inovação, para mim, deveria ser parte dessa meta, podendo até ser considerada uma meta ESG, pois está alinhada ao conceito de sustentabilidade de longo prazo. Inovação e ESG estão cada vez mais interligados. Seria interessante ter metas específicas, como o número de startups interligadas, testadas e incorporadas à linha de produção. Desafios como esse motivariam as equipes a trabalhar em conjunto para atingir essas metas.

Para fechar, o que está no pipeline do Fleury dentro desse conceito de inovação? Quais são os próximos passos?

Andrea Bocabello – No próximo ano, nossa estratégia terá um foco significativo na aceleração digital, particularmente no segmento de acesso, no qual o Pardini desempenha um papel crucial. Estamos prestes a lançar produtos voltados para o público em geral, sem plano de saúde, abrangendo o segmento de acesso, que atende às classes C e D. Digital e dados são os temas predominantes que permearão todo o ano, com destaque para o setor de saúde. Apesar da pressão constante de preços por parte de operadoras e fornecedores, o Fleury, sendo uma empresa sólida no setor, busca eficiência de custos. Estamos atentos a oportunidades que melhorem nossos processos internos, pois, embora gerem lucros, nosso foco estratégico está na área de dados, integração de dados e inteligência artificial para serviços médicos, além do segmento de acesso, uma frente de negócios sustentável que está diretamente vinculado à nossa meta de debêntures. Estamos comprometidos com a sustentabilidade, incluindo a gestão de resíduos sólidos, o que, embora envolva aprimoramentos nos processos cotidianos, também requer investimentos em máquinas e frotas modernas. Esse é um esforço diferente da inovação convencional. Enquanto a eficiência operacional e inovações podem surgir dessas melhorias, acreditamos que as verdadeiras inovações, especialmente na área de dados, surgirão para atender ao segmento de acesso, uma lacuna no mercado brasileiro que estamos prontos para preencher com soluções únicas e inovadoras.

Vinícius Romero

Formado em Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo e com MBA em Gestão de Negócios, possui quase 20 anos de experiência dos dois lados da mesa: como jornalista e profissional de comunicação. É editor e diretor de novos formatos do Futuro da Saúde. Email: vinicius@futurodasaude.com.br.

About the Author: Vinícius Romero

Formado em Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo e com MBA em Gestão de Negócios, possui quase 20 anos de experiência dos dois lados da mesa: como jornalista e profissional de comunicação. É editor e diretor de novos formatos do Futuro da Saúde. Email: vinicius@futurodasaude.com.br.

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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