Anarita Buffé, da Consultoria Einstein: “Organizações de saúde que não forem eficientes não vão sobreviver”

Anarita Buffé, da Consultoria Einstein: “Organizações de saúde que não forem eficientes não vão sobreviver”

(Conteúdo oferecido por Hospital Israelita Albert Einstein) Reduzir a fila […]

By Published On: 04/05/2022

(Conteúdo oferecido por Hospital Israelita Albert Einstein)

Reduzir a fila da emergência, zerar a espera do centro cirúrgico e garantir que os fluxos de suprimentos sejam otimizados, sem perder de vista a qualidade do serviço e a segurança do paciente, são alguns dos desafios para se manter a sustentabilidade e a relevância das organizações de saúde ao longo do tempo. Isso quer dizer que operar de maneira eficiente já não é apenas uma opção, mas algo obrigatório.

É o que diz Anarita Buffé, líder da área de Consultoria e Gestão do Einstein. “Quem está entrando no mercado agora já chega com operações mais eficientes, com maior base tecnológica, e que vêm aliadas a uma proposta de valor voltada para o segmento alvo. Entre os que já estavam, quem não se transformar não vai sobreviver”, afirma.

O trabalho da executiva e sua equipe é oferecer, aos setores público e privado, a expertise de uma organização de saúde como o Einstein, que tem entre suas unidades o melhor hospital do Brasil e da América Latina, de acordo com rankings recentes, além de uma intensa atuação no setor público.

Em entrevista ao Futuro da Saúde, a diretora de Desenvolvimento de Projetos e Consultoria do Einstein faz um diagnóstico do panorama das organizações de saúde e conta sobre como é possível fazer todas elas, de pequenos hospitais a grandes redes, nos setores público e privado, nascerem, crescerem e evoluírem, seja no Brasil ou no exterior. Confira os principais trechos da conversa:

Quais são os maiores problemas de gestão de organizações e empresas brasileiras na área da saúde?

Anarita Buffé – Ainda há muita ineficiência e desperdício no setor. Essa condição repercute negativamente não só na instituição, mas na sociedade como um todo, pois são perdidos recursos públicos e privados, o que eleva o custo da saúde e reduz a capacidade de atendimento. Os problemas são encontrados nos diversos níveis, da governança à gestão da operação, tanto no setor público como no privado. É comum se encontrar filas de espera para receber um atendimento, convivendo com leitos para internação ociosos e/ou salas cirúrgicas desocupadas enquanto o usuário espera meses para conseguir realizar uma cirurgia. Pode-se dizer que não há gestão, pois não é raro encontrar instituições onde os gestores não conhecem os seus indicadores mais básicos, como a real taxa de ocupação ou o tempo médio de permanência dos pacientes.

Como essa busca pela eficiência é afetada pela competição no setor?

Anarita Buffé – Quem está entrando no mercado agora já chega com propostas mais eficientes e que vêm aliadas a uma maior qualidade. Entre os que já estavam, o desafio é se reinventar diante de fortes movimentos de consolidação do mercado e novas operações que vêm com novos modelos de negócio e propostas de valor muito claras.

O Einstein já atua também em outros países?

Anarita Buffé – Sim, a Consultoria desenvolve projetos para organizações de saúde da América Latina, como na Bolívia e Paraguai, de desenho e implantação de hospitais para investidores locais, com o propósito de levar a experiência e conhecimento do Einstein em saúde e contribuir para elevar o patamar dos serviços oferecidos à população local.

Qual é a diferença entre trabalhar no Brasil e na América Latina?

Anarita Buffé – Aqui no Brasil, nós temos, em geral, profissionais de saúde com boa formação. Já em alguns países da América Latina, a realidade é outra, há uma grande lacuna na qualificação.

E como a consultoria consegue gerar impacto nos resultados dos clientes?

Anarita Buffé – O Einstein é uma instituição filantrópica que tem trajetória e legitimidade para promover essas mudanças na saúde. Ao compartilhar nosso conhecimento transformamos o setor e o ajudamos a evoluir, em benefício de toda a sociedade. Nós aprendemos com o que fazemos nas nossas unidades próprias e nas 27 unidades públicas que administramos — hospitais de referência, inclusive, reconhecidos por sua qualidade. Conseguimos agregar especialistas de todas as áreas, sejam assistenciais – como centro cirúrgico e centro de terapia intensiva – e outras – como suprimentos, engenharia clínica, infraestrutura, recursos humanos etc. A gente trabalha no hospital o tempo todo, e esse olhar é agregado aos projetos e faz toda a diferença. Levamos indicadores que cobrem toda a cadeia do processo hospitalar para referenciar a abordagem dos projetos.

Poderia dar um exemplo?

Anarita Buffé – Quando falamos de operação de saúde sabemos, por exemplo, que o fator tempo é crítico. Nossos projetos são desenhados e implantados numa perspectiva de fluxo contínuo, de não haver interrupção no atendimento, assim como de conferir condições seguras para as equipes de saúde, e tendo como premissa, o paciente no centro do cuidado.  

Existe uma atuação em escala mais macro, no nível governamental?

Anarita Buffé – No setor público, desenvolvemos projetos de apoio à estruturação de redes de atenção à saúde para estados e municípios, visando melhorar a qualidade assistencial, a eficiência da alocação dos recursos e a adequação do sistema como um todo, resultando em uma melhor atenção à saúde primária, secundária e terciária para a população. Por exemplo, quando estabelecimentos de saúde como UBS, AMA e UPA não estão adequadamente estruturadas, organizadas e conectadas em rede (ou seja, interagindo entre si de forma fluída), observa-se uma baixa resolutividade dos casos, sobrecarregando os níveis de atenção de maior complexidade, como hospitais, gerando, em última análise, concorrência dos recursos para atendimento de toda a população, com desperdícios e prejuízo na qualidade no atendimento.

Como as pessoas recebem as mudanças propostas por vocês?

Anarita Buffé – Em um primeiro momento, é comum encontrar pessoas resistentes às mudanças propostas, pois, certamente, gera uma ansiedade frente aos novos arranjos. No entanto, ao longo da execução do projeto, a Consultoria se preocupa em aplicar metodologias que demonstrem a importância e os ganhos da transformação, tanto para a organização e pacientes quanto para as atividades e rotinas dos colaboradores, melhorando significativamente os seus processos de trabalho e entregas, permitindo, inclusive, maior engajamento desses profissionais com os valores da organização.

Que indicadores são medidos?

Anarita Buffé – Os projetos são desenvolvidos de acordo com as necessidades e prioridades de cada organização e, dessa forma, os objetivos, indicadores e as metas são estabelecidos com base na realidade e nos desafios destes clientes. Por exemplo, em um hospital com superlotação, com pacientes internados em pronto socorro e com baixa taxa de desospitalização, os principais indicadores globais definidos são taxa de ocupação de leitos, tempo médio de permanência e giro de leitos, sempre desdobrados para se mensurar o desempenho de cada um dos diversos serviços existentes em um hospital. Outro exemplo que pode ser compartilhado (problema comum nas organizações de saúde) é a perda de receita devido ao não lançamento correto dos itens e serviços administrados no paciente. Assim, um trabalho complexo é realizado no sentido de se recuperar e garantir a receita efetivamente realizada, reduzindo significativamente o trabalho realizado por auditorias de contas. No entanto, um ponto relevante que deve ser destacado nestes projetos (uma marca da nossa atuação na Consultoria) é que a eficiência não se sustenta ao longo do tempo se aspectos de qualidade assistencial e segurança do paciente não forem acompanhados em conjunto.

E os projetos de enfrentamento à Covid-19? Ainda estão de pé?

Anarita Buffé – Sim, especialmente em escolas. Cerca de vinte projetos permanecem em andamento e, ao todo, mais de 200 mil pessoas já foram impactadas. Ao longo da pandemia, os cenários sempre foram muito dinâmicos, com novas variantes, surgimentos de ondas ou picos de novos casos, campanhas de vacinação e mudanças de leis. Assim, a cada mudança, detalhes importantes nos protocolos e recomendações eram revisados pela nossa equipe multidisciplinar, no sentido de promover saúde e segurança no enfrentamento à Covid-19 durante o retorno das atividades presenciais.

Gabriel Alves

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NATALIA CUMINALE

Sou apaixonada por saúde e por todo o universo que cerca esse tema -- as histórias de pacientes, as descobertas científicas, os desafios para que o acesso à saúde seja possível e sustentável. Ao longo da minha carreira, me especializei em transformar a informação científica em algo acessível para todos. Busco tendências todos os dias -- em cursos internacionais, conversas com especialistas e na vida cotidiana. No Futuro da Saúde, trazemos essas análises e informações aqui no site, na newsletter, com uma curadoria semanal, no podcast, nas nossas redes sociais e com conteúdos no YouTube.

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