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Evoluindo para a saúde do futuro

A tecnologia terá um papel cada vez mais importante tanto no tratamento de doenças como na superação dos grandes desafios. Ao lado de outras medidas, como investir em prevenção e estímulo ao autocuidado, podemos ter populações mais saudáveis e sistemas de saúde mais sustentáveis

               
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8º Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde
Apresentação durante o 8º Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde

O título deste artigo foi o tema do 8º Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde, promovido em outubro pelo Einstein, Institute for Healthcare Improvement (IHI) e Clínica Alemana (Chile), e o do próximo ano, em São Paulo, já está definido: “Tecnologia para a Equidade”. Ambos se entrelaçam e têm a ver com os desafios observados na área da saúde em todo o mundo: custos que crescem exponencialmente, doenças crônicas que aumentam com o envelhecimento, enfermidades associadas às mudanças climáticas e parcelas da população excluídas, mesmo em países ricos.

Não existem soluções fáceis, mas um primeiro ponto a ser atacado parece óbvio: evitar que as doenças aconteçam ou que as crônicas se agravem, ou seja, investir mais em prevenção e controle. De um lado, isso envolve a estrutura de atenção primária e o trabalho das equipes de saúde. De outro, comunicação e educação em saúde para que as pessoas adotem hábitos saudáveis e exercitem o autocuidado.

Mas é difícil pensar em formas de diagnóstico e tratamento mais eficientes, acessíveis e com custo adequado sem falar em tecnologia. O arsenal de ferramentas tecnológicas aplicáveis à saúde é imenso – das soluções de conectividade até big data, machine learning e inteligência artificial, entre outras.

Conectividade é a base, por exemplo, do TeleAMES, um projeto por meio do qual médicos de sete especialidades do Einstein atendem por teleinterconsulta pacientes do SUS de localidades remotas onde não existem especialistas. Já foram feitos mais de 150 mil atendimentos nas regiões Norte e Centro-Oeste.  Em 2017, em uma parceria com a Prefeitura de São Paulo, o Einstein ajudou a zerar a fila de cerca de 65 mil pacientes em busca de atendimento dermatológico, com seus especialistas fazendo teleinterconsulta e analisando fotos das lesões associadas à história do paciente para fazer o diagnóstico e o encaminhamento conforme o caso.

Algoritmos criados a partir de big data, analytics e inteligência artificial têm sido aplicados em inúmeras soluções na área da saúde (monitoramento de pacientes internados, melhoria de processos, apoio à decisão médica, etc.). Agora começam a surgir projetos baseados em inteligência artificial generativa. Recentemente, o Einstein recebeu um grant da Fundação Bill e Melinda Gates para um projeto que auxiliará profissionais de saúde da região Norte na assistência a gestantes durante o pré-natal. Na prática, o sistema “escuta” as informações e queixas da paciente e, por meio de IA generativa, sugere ao médico de família que está atendendo (e que não é um especialista) condutas que o ajudam no atendimento. O projeto já entrou em fase de validação em unidades de saúde do Amazonas.

A outra face da revolução digital na saúde é que ela exige rever a formação de médicos e profissionais da área e promover a atualização dos que já exercem a profissão para que estejam habilitados a lidar com as novas tecnologias.

Mas olhar o futuro da saúde pelas lentes da tecnologia é fascinante. Sabemos, por exemplo, que dois indivíduos com o mesmo tipo de tumor não respondem igualmente à mesma terapia. No entanto, a genética já nos permite personalizar o tratamento, identificando o que vai funcionar melhor para cada um.  Cada vez mais as novas tecnologias irão convergir para a medicina de precisão, quem sabe nos permitindo um dia até manipular a sequência genética dos pacientes para evitar o aparecimento de uma doença.

Cirurgias a distância – com o cirurgião a quilômetros de distância do paciente – também despontam no horizonte, combinando robótica e conexão de alta velocidade e baixa latência. A confecção de órgãos em impressoras 3D, que permitiria realizar transplantes sem que o paciente tenha de esperar um doador disponível ou compatível, pode ser uma realidade mais distante, mas já existem estudos experimentais nesse sentido.

É verdade que nós não temos o teletransporte da nave Enterprise da série Star Trek. Mas temos a robótica e o 5G (o 6G já em desenvolvimento) para “levar” o cirurgião ao paciente distante. Também não temos o tricorder que o doutor McCoy usava para escanear o doente e fazer o diagnóstico. Mas conseguimos diagnosticar um problema dermatológico em uma teleinterconsulta a partir da foto da lesão da pele e com a genética podemos até identificar o risco de a pessoa desenvolver alguns tipos de doença e agir na prevenção ou no rastreamento para o diagnóstico precoce. O fato é que a tecnologia tem transformado ficção em realidade. E, se soubermos usá-la bem e explorar seu potencial junto com outras medidas, como as relacionadas à prevenção e ao autocuidado, poderemos tornar realidade o que hoje parece ficção: termos sistemas de saúde mais eficientes, sustentáveis e inclusivos para populações mais saudáveis.